Newsletter Banco Central (2021-03-13)

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Banco Central do Brasil

Revista Veja/Nacional - Capa
sexta-feira, 12 de março de 2021
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conhecidos do Centrão, como o PSD, de Gilberto
Kassab, e o PL, de Valdemar Costa Neto. Dirigentes do
partido creem que a popularidade de Lula entre os mais
pobres poderá ser um chamariz para atrair os
“neoaliados” do presidente Jair Bolsonaro que possuem
redutos eleitorais no Nordeste.
Bolsonaro, inclusive, terá a partir de agora um opositor
ferrenho ao seu governo. Lula não economizou nos
ataques contra a péssima gestão do presidente durante
a pandemia e citou por diversas vezes a alta dos preços
de produtos de primeira necessidade, como os
alimentos, a gasolina e o gás de cozinha. O ex-
presidente quer se apoiar a esses pontos para provocar
o maior nível de desgaste possível ao governo federal.
Ele está incentivando aliados como o ex-prefeito
Fernando Haddad (PT), o líder do movimento dos sem-
teto Guilherme Boulos (PSOL) e o governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), a viajar o país para
vocalizar essas insatisfações. “Minha posição desde
que acabou a eleição municipal, no ano passado, é de
trabalhar por uma unidade do campo progressista”, diz
Boulos, que tem resistido a pressões de seu partido
para se lançar candidato ao Palácio do Planalto desde
que terminou em segundo lugar na disputa pela
prefeitura de São Paulo. Quem ficou a ver navios foi
Ciro Gomes (PDT). Cada vez mais belicoso, o ex-
ministro foi um dos alvos abertos do discurso de Lula.
“Ele acha que é o quê? Ele tem de se reeducar”, disse o
petista. Carlos Lupi, presidente do PDT, não quis entrar
no tiroteio (“não trabalho com adjetivos”), mas
reconheceu o óbvio: uma aliança entre ambos é inviável
no primeiro turno.
Se já era um desafio criar uma terceira via em meio à
polarização entre direita e esquerda no país, agora o ar
ficou ainda mais rarefeito para quem deseja ocupar
esse espaço político. Além de lideranças fortes em seus
redutos, Lula e Bolsonaro devem esboçar movimentos
para conquistar eleitores de centro. Para não ficar para
trás, o PSDB apressou-se a divulgar nesta semana uma
portaria assinada pelo presidente da sigla, Bruno
Araújo, que prevê para outubro a realização de prévias
com o objetivo de escolher o candidato tucano. Os
governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS),
com larga vantagem para o primeiro, são os principais
competidores ao posto. “O Lula obriga todos os partidos


de centro a conversar de fato”, afirma Araújo. “Se
houver mais de duas candidaturas nesse espectro,
nossas chances estão matematicamente extintas.” A
opinião do dirigente tucano é compartilhada pela cúpula
do DEM, que liberou o ex-ministro da Saúde Luiz
Henrique Mandetta para se movimentar em torno de um
projeto presidencial. Já o apresentador Luciano Huck
(sem partido), que vinha demonstrando empolgação
com a possibilidade de concorrer, publicou no Twitter
uma indireta a Lula, dizendo que “figurinha repetida não
completa álbum”, mas admitiu em conversas com
aliados que terá de esperar (ainda mais) para ter uma
visão clara do cenário eleitoral. Pessoas próximas a ele
comentavam antes da ação tomada por Fachin que era
mais provável que Huck continuasse na Globo caso a
disputa de 2022 desembocasse para a polarização
extrema entre o lulismo e o bolsonarismo.
Definitivamente, esse é o cenário posto hoje.
Há muito tempo circula no Palácio do Planalto a
informação de que Bolsonaro gostaria de ver Lula na
disputa para explorar ao máximo o antagonismo com a
esquerda. Ao saber que Fachin havia anulado as
condenações de Lula na Lava-Jato, Bolsonaro fez dois
breves comentários com assessores palacianos e
parlamentares. O primeiro foi uma crítica direcionada ao
ministro. O presidente disse que havia um tempo o
magistrado, a quem chama de “petista”, vinha proferindo
“decisões absurdas”. Depois de criticá-lo, Bolsonaro
resumiu em poucas palavras o que acha do seu maior
oponente voltar a ser elegível e disputar o pleito de


  1. “Será ótimo. Será a oportunidade de enterrar Lula
    de uma vez por todas”, disse ele a um aliado. Em 2018,
    o então deputado do baixo clero aglutinou o sentimento
    antipetista da sociedade ao se colocar como a única
    opção para impedir a volta da esquerda ao poder. “O
    antipetismo continua sendo a força política mais forte do
    país, mas isso pode mudar”, alerta Idelber Avelar,
    professor da Universidade Tulane (EUA) e autor do livro
    Eles em Nós: Retórica e Antagonismo Político no Brasil
    do Século XXI. Algumas pesquisas reforçam a ideia de
    que a candidatura de Lula pode ser mais indigesta do
    que parece a Bolsonaro. Uma pesquisa do IPEC
    realizada antes da decisão de Fachin já mostrava que
    Lula tinha a menor rejeição entre todos os possíveis
    candidatos. O petista era mal visto por 44% da

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