Banco Central do Brasil
Revista Veja/Nacional - Brasil
sexta-feira, 12 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
movimento coordenado para combater a catástrofe
O mês de março de 2021 entrará para a história como o
momento mais dramático da pior crise sanitária já vivida
pelo Brasil. O país superou pela primeira vez a terrível
marca de 2?000 mortes por dia, algumas delas de
pacientes que nem sequer tiveram a oportunidade de ir
para uma UTI porque não havia vagas — ao menos 23
dos 26 estados registram ocupação acima de 80% dos
leitos, situação que inclui São Paulo, o mais rico e
estruturado da federação, onde houve mortes na fila de
espera. O avanço da pandemia colocou pressão nos
governantes e foi acompanhado de medidas tomadas
no afogadilho, como radicalizar o isolamento social —
iniciativa que gera protestos e nem sempre é respeitada
—, criar comitês hospitalares para escolher quem, entre
os doentes, tem mais chance de sobreviver e
providenciar contêineres para armazenar os corpos, em
um eventual colapso da rede funerária. Em meio a esse
cenário, a vacinação, a principal porta de saída para
esse pesadelo, continuou em velocidade muito aquém
da necessária, com planejamentos refeitos o tempo todo
e seguidas frustrações em razão de atrasos.
Com tantas más notícias, no entanto, acendeu-se ao
menos uma luz no fim do túnel. O panorama exigiu que
as principais autoridades do país se dispusessem a
superar eventuais divergências e a tentar construir uma
forma de atuação mais coordenada, guiada por algumas
premissas básicas. Pressionados pela grave situação
em seus estados, governadores de partidos e ideologias
diferentes passaram a buscar saídas para enfrentar o
gigantesco desafio. As conversas resultaram no
documento chamado “Pacto Nacional”, lançado na
quarta-feira 10, por 22 dos 27 chefes de Executivo
estaduais. “Em mais de um ano de crise, é a primeira
vez que temos um esforço de coordenação nacional
como foi adotado em outros países. É um passo
extraordinário, já que até agora estávamos no cada um
por si e Deus por todos”, afirma o governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
Chegar a esse esboço de pacto não foi fácil. Coube a
Dino a espinhosa missão de contemplar no texto a visão
de governadores antagônicos, divididos entre os que
têm boa relação com Jair Bolsonaro, como o goiano
Ronaldo Caiado (DEM) e o mineiro Romeu Zema
(Novo), e outros que fazem oposição, como João Doria
(PSDB), de São Paulo — este assinou a carta, mas
ficou fora da articulação para facilitar a adesão dos
governistas, preocupados em evitar que o movimento
tivesse o tom de mais um embate entre o tucano
paulista e o presidente. O esforço foi necessário para
reverter o clima de levante que se insinuou na semana
anterior, depois que Bolsonaro responsabilizou os
estados pela crise, citando bilionários repasses da
União — em reação, os governadores lançaram uma
carta acusando-o de utilizar “instrumentos de
comunicação oficial para produzir informação
distorcida”. Com esse tom, a primeira carta teve a
adesão de apenas dezesseis governantes. O grupo
cresceu quando o discurso ganhou um teor menos
acusatório. “Nesse momento da crise, o foco absoluto é
na solução. Apontar culpados agora mais atrapalha do
que ajuda. Vamos deixar o julgamento para depois”,
resume o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
O clima melhorou na segunda-feira 8, quando o
governador do Piauí, Wellington Dias (PT), coordenador
do grupo, e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,
selaram a paz no Rio. “Foi um momento importante para
que pudéssemos apresentar um cronograma para
março”, declarou Dias ao lado do auxiliar de Bolsonaro.
O resultado final ficou mais próximo, de fato, do que se
espera para o momento. Em tom moderado, o novo
documento acerta ao defender os três pilares para frear
o avanço do “maior adversário da nossa nação”: apoio a
medidas preventivas (uso de máscaras, distanciamento
social), ampliação do portfólio de vacinas à disposição e
aumento de leitos para pacientes da Covid-19. Um dos
itens mais importantes do ponto de vista político é a
formação de um “comitê gestor” com representantes
dos três poderes, que vai monitorar dia a dia o
cronograma de vacinas e orientar ações que deverão
ser postas em prática em âmbito nacional em momentos
de crise, como cancelamento dos torneios esportivos,