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Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Plural
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Bitcoins

transmitidas em áudio, espetáculos viram fragmentos a
serem caçados em vídeos curtos, álbuns musicais são
gravados em sessões com os fãs e a obra de arte é
vendida em criptomoedas. Tudo muito confuso para
quem ainda tem a viva lembrança de só ir a um cinema,
ao teatro, a um show de música ou a uma galeria de
arte. A tecnologia tem ressignificado os conceitos.
Novas plataformas digitais como Clubhouse, Twitch e
Tik Tok, e mais a emergente criptoarte, são uma
realidade para produtores culturais.


Ivam Cabral escreveu a peça em meados dos anos
2010, com a motivação de lidar com uma grave
depressão. O boca a boca tomou conta desse
espetáculo dramático e profundo, fundamentado no
trabalho do ator. No palco não há música, som, luz ou
figurino que tire o foco de sua fala. O ator e Rodolfo
Garcia Vázquez, diretor da peça e cofundador da Cia
Os Satyros, buscam agora atingir novos públicos pelo
Clubhouse. “Entendemos que o teatro não é mais um
lugar regional, da Praça Roosevelt. Estamos pensando
em trabalhar aqui dentro, porque é uma plataforma
muito interessante”, diz.


O Clubhouse é uma rede social de bate-papos apenas
audiofônicos. Não há textos, emojis ou memes.
Funcionam como clubinhos, com a vantagem de poder
entrar e ficar só de ouvinte, em salas de assuntos
variados. Um pouco antes da pandemia, a cantora e
compositora Leesa, nascida Lisa Kalil, trabalhava no
lançamento de Maná, seu segundo álbum, depois de
Vitrais (2018). Mas problemas na distribuição das faixas
fizeram o projeto ser adiado. Em janeiro deste ano, ela
recebeu um convite para entrar na “nova rede social”.
Lá reencontrou uma antiga amiga, Alexa Devi, e as
duas tiveram a ideia de criar o House Teatro, uma
leitura diária do livro A Volta ao Mundo em 52 Histórias,
do inglês Neil Philip.


“Trouxemos o teatro para o ao vivo, que só acontece
naquele momento. Dá um frio na barriga, porque estou
criando os sons, as músicas, tocando os instrumentos,


escaleta, piano, flauta, tudo na hora”, afirma Leesa. Ela
e Alexa estão em São Paulo, e Michele de Paula, do
elenco fixo, em Sorocaba. “Nos anos 1940, na época do
radioteatro, ninguém sabia o corpo da pessoa, o que
importava era se ela tinha talento e se conseguia
respeitar o outro durante as conversas.” O Clubhouse
conta hoje com mais de 6 milhões de usuários. As
marcas, sempre de olho no potencial comercial das
redes sociais, trabalham para entrar nesta nova
plataforma.

Ganhar dinheiro é sempre uma necessidade para
empresas e artistas, mas não sob os mesmos
patamares. Não raras vezes, os criadores recebem bem
menos do que quem mercadeja o produto cultural. É por
isso que os artistas estão de olho nas criptoartes, ou
nas NFTs (non-fungible token, na sigla em inglês). E
mais ainda no lançamento, em 5 de março, da primeira
coleção NFT da história, pela banda de rock Kings of
Leon. Ao lançar o álbum When You See Yourself,
acessível nas plataformas de streaming, o grupo
ofereceu também uma coleção de arte digital com 25
peças exclusivas e vendidas sobre um tipo de
criptomoeda (o ethereum). Há itens, negociados na
plataforma Yellow Heart, que vão de disco de vinil de
edição limitada, capa alternativa a assentos cativos em
shows da banda.

O princípio é o mesmo do bitcoin, uma moeda baseada
na tecnologia da blockchain, totalmente rastreável e
escassa, com a diferença de que a criptoarte negocia
itens culturais, que podem ser arquivos, GIFs,
fotografias ou artes digitais. Quem compra ganha um
atestado de originalidade da obra, o que aparentemente
soa despropositado em tempos da reprodutibilidade
maciça da obra de arte, como anteviu o filósofo alemão
Walter Benjamin. “A NFT não resolve a pirataria, mas
soluciona a autenticidade”, explica o artista-
programador Carlos Oliveira, o Vamoss. “O que muda é
que a gente (artistas) não precisa mais atravessar todas
as barreiras. A arte tradicional precisa ter um mercado
querendo te contratar, um galerista que queira te exibir,
o curador e o museu, também. Na NFT, o público vai
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