National Geographic Portugal - Edição 220 (2019-07)

(Antfer) #1

84 NATIONAL GEOGRAPHIC


Os passageiros amontoam-se nos veículos.
Cada carrinha leva 25 passageiros e estes não
transportam mais do que uma mochila. Usam
óculos escuros e lenço ao pescoço para se prote-
gerem da areia, além de casacos grossos para as
noites geladas da viagem de três dias até à Líbia.
Vê-se bem que são jovens. Apertados uns con-
tra os outros, no meio de estranhos, mexem as
mãos com o nervosismo e contemplam apatica-
mente a paisagem vazia que os aguarda. Vende-
dores empurrando carrinhos de mão ferrugentos
apregoam casacos em terceira mão, cana-de-açú-
car, sacos de plástico com água, cigarros e cajados
para servirem de apoio contra a possibilidade de
caírem da carrinha em andamento e ficarem iso-
lados no Saara, ermo e sem lei, vendo ao longe
a caravana impiedosa desaparecer no horizonte.
As carrinhas continuam a chegar. Mais de
cem estarão aqui reunidas quando o desfile
começar. Duas viaturas militares avançam re-
solutamente: uma para assumir a liderança da
coluna e a outra para guardar a retaguarda. Ao
cair da noite, um enxame de motocicletas surge
do nada e transpõe o posto de controlo da cida-
de, com uma vaga de frenéticos aspirantes a via-

Este adolescente
coberto de areia,
devido ao trabalho
numa mina, é um dos
muitos nigerinos que
entraram na corrida
ao ouro. É a última
esperança para quem
ficou desempregado
depois do colapso
do turismo, do declínio
da mineração do urânio
e de uma lei que
criminalizou o trans-
porte de migrantes.

POUCO ANTES


DO CREPÚSCULO,


AS PRIMEIRAS CARRINHAS


DE CAIXA ABERTA PASSAM


PELO POSTO DE CONTROLO


E ESTACIONAM NO


DESERTO, NOS ARREDORES


DE AGADEZ, NO NÍGER.

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