National Geographic Portugal - Edição 220 (2019-07)

(Antfer) #1
NÍGER,UMPAÍSÀBEIRADAMUDANÇA 85

jantes de última hora, que pretendem negociar
um lugar dentro das carrinhas sobrelotadas. No
turbilhão de areia e da caótica integração dos
retardatários, uma motocicleta desliza sobre a
areia até se deter. Mesmo sentado, o condutor é
uma figura grande e imponente. De barba des-
grenhada e palito entalado nos lábios, examina
a multidão com um sorriso beatífico.
Ri-se com vontade e proclama: “Arroz e feijões!”
O Patrão (nome pelo qual este homem é conhe-
cido por todos em Agadez) não está a descrever
alimentos. Está a referir-se à composição da cara-
vana. Há o arroz: as muitas centenas de passagei-
ros que integram esta caravana semanal, rumo à
Líbia, em busca de trabalho. Depois, há os outros,
os feijões (não mais do que talvez sete por carri-


nha) oriundos de outros lugares, a caminho de
destinos diferentes, cada qual com as suas moti-
vações. Eis a receita do Patrão. Ele é, poderíamos
dizê-lo, um exportador de feijões. Milhares incon-
táveis de feijões desde que começou a dedicar-se
ao negócio em 2001 e mesmo depois de o governo
do Níger o ter tornado ilegal em 2015.
O fluxo de viajantes não tem parado e não
cessará. A instabilidade crescente da África
Ocidental assim o garante. O trabalho do Patrão
consiste em gerir este fluxo. Na qualidade de
passador, ele posiciona-se no topo de uma rede
obscura, talvez a maior de Agadez, compos-
ta, no mínimo, por uma centena de motoristas
e outros tantos angariadores, que tratam
dos preparativos.
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