National Geographic Portugal - Edição 220 (2019-07)

(Antfer) #1
42 NATIONALGEOGRAPHIC

NumaregiãoisoladadaNovaZelândia,numa
plataformadelançamentoadjacentea umagi-
gantescapastagemparaovelhas,umaempresa
chamadaRocketLabestátambéma utilizarfo-
guetõesinovadorese debaixocustoparalançar
satélitesparaa baixaórbitaterrestre.
Na região fronteiriça do Dubai, onde a
companhiaaéreaEmiratescriouumainfra-es-
truturaparaviajantesaéreosnumdesertoou-
troravazio,estáa serconstruídoumaeroporto
novoe aindamaiscolossal,promovidocomoa
primeira “cosmotrópole” do mundo.Segundo
asautoridades,serácapazdegerirfoguetõese
naves supersónicas,bemcomoaviões a jacto
convencionais.
NoJapão,a JAXA,a agênciaespacialoficial,
anunciouemMarçoqueestavaa trabalharcom
a Toyotaparadesenvolverumnovomódulolu-
nar tripulado quepermitisse aosastronautas
viajaremmaisdedezmilquilómetrossobre a
superfícielunar.


G


rande parte da engenharia aeroespacial
de hoje é alimentada por uma concorrên-
cia feroz entre alguns bilionários cujas
ambições e egos parecem ser do outro mundo.
As suas naves espaciais são diferentes das do
passado porque não estão a ser desenvolvidas
apenas para fins de exploração científica. Estas
naves têm como objectivo ganhar dinheiro, con-
cretizando os desejos caros de aspirantes a astro-
nautas ou colhendo recursos valiosos através da
mineração de asteróides, transportando pessoas
rapidamente entre dois locais da Terra ou, como
sugeriu Jim Keravala, acabando por nos trans-
formar numa espécie multiplanetária.
Muitos destes titãs do espaço têm uma ideia
clara do destino, mas, em termos colectivos, ain-
da mal começámos a discutir a ética e a sabedo-
ria destes desenvolvimentos. Se, como o incan-
sável evangelista do espaço e do comércio Jeff
Bezos insistiu, o Sistema Solar puder facilmente
suportar “um bilião de seres humanos”, entre os
quais haveria “mil Einsteins e mil Mozarts”, de-
veríamos levar em consideração o apelo do fun-
dador da Amazon e começarmos a multiplicar-
-nos no firmamento?
Ao mesmo tempo, existe um aspecto intrigan-
te nas ideias e proclamações de objectivos altivos
que as empresas espaciais privadas usam nos
seus materiais de promoção: muitas afirmam que
a partida para o espaço se destina, na verdade, a...
salvar a Terra e a torná-la um sítio melhor.


“Abrimos o espaço para mudar o mundo para
sempre”, proclama a Virgin Galactic, fundada
pelo milionário Richard Branson. “Para pre-
servar a Terra... temos de ir ao espaço explorar
os seus recursos e energia ilimitados”, anuncia
a Blue Origin, a empresa de Bezos. “Abrimos o
acesso ao espaço para melhorar a vida na Terra”,
pretende a Rocket Lab. “Imagine se a maioria
das viagens demorassem menos de 30 minutos,
com acesso a qualquer sítio do mundo numa
hora ou menos”, sonha a SpaceX, a empresa do
milionário Elon Musk, segundo o qual as via-
gens espaciais viabilizarão estas viagens com
partida e chegada na Terra.
Porque estamos no espaço? Há cinquenta
anos, era fácil responder a esta pergunta. Para
chegar à Lua! Era uma questão de descoberta e
de prestígio. Para exprimir uma proclamação de
boa vontade: “Viemos em paz em nome de toda
a humanidade.” Todos sabiam que o objectivo
era chegar à Lua, regressar em segurança e ga-
barmo-nos disso.
No entanto, quem hoje fizer essa pergunta
poderá ouvir uma dezena de respostas diferen-
tes. Vale a pena avaliá-las porque não podemos
ponderar se deveríamos ou não estar no espaço
sem termos noção do que lá estamos a fazer ou
pretendemos fazer.

N


o Cazaquistão, à porta do hangar, saio
do autocarro com o resto do meu grupo


  • um grande conjunto de jornalistas, na
    sua maioria russos e alguns canadianos. Fica-
    mos por ali e batemos com os pés no chão por-
    que está frio nesta manhã do princípio de De-
    zembro: -14ºC e um vento forte que torna o frio
    ainda pior.
    Estamos à beira de uma barreira de seguran-
    ça. O grupo do lado de cá tem as máquinas fo-
    tográficas e os cadernos de apontamentos em
    punho. Do lado de lá, os agentes de segurança,
    de armas em punho, falam para os aparelhos fi-
    xos nos ombros dos seus uniformes. O foguetão
    está deitado de lado sobre um vagão ferroviário:
    tem quatro propulsores cónicos na base de um
    cilindro branco e uma bandeira russa pintada
    em cores vivas no topo. Emitindo um apito gra-
    ve, o comboio avança lentamente, dirigindo-se
    à plataforma de lançamento, a vários quilóme-
    tros de distância.
    Há alguma carga dramática associada ao lan-
    çamento porque o anterior, ocorrido em Outu-
    bro, teve de ser abortado a 93 quilómetros de

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