44 NATIONALGEOGRAPHICRecordo o incêndio que defl agrou na cabina
da nave espacial Apollo 1, em Janeiro de 1967,
tragédia que ceifou a vida de três astronautas no
Complexo de Lançamento 34, aqui perto, e onde
hoje se ergue um memorial em homenagem aos
homens “que fi zeram o derradeiro sacrifício para
que outros pudessem chegar às estrelas”.
São igualmente um lembrete útil: apesar dos
avanços da NASA, na sua eterna demanda por um
voo espacial mais seguro, este continua a ser ar-
riscado. No essencial, os astronautas embarcam a
bordo de uma bomba sempre que entram na cáp-
sula de uma nave espacial, bomba essa que, assim
acreditam, descolará de forma controlada.
Dos 135 voos de vaivém espacial, dois acaba-
ram em tragédia, ceifando sete vidas cada. Se
aceitássemos essa taxa de fracasso nos voos co-
merciaisnosEUA,estaríamosa tolerarmaisde
500 acidentespordia.
TonyTaliancichmostra-meondea cápsulada
tripulaçãodoStarlinerencaixaráe aponta-mea
entradaparaumacâmaraseladaqueassegura
quea cabinapermaneceintactadepoisdeosas-
tronautasentrarem.
EuobservaraumStarlinercercadeumahora
antes, numa linhade montagem nas imedia-
ções.Maisespecificamente,viraasmetadessu-
periore inferiordacápsulacónicasemassuas
camadasexterioresdeprotecçãocontrao calor,
revelandoa impressionantemistura,semelhan-
tea esparguete,detubos,fiose caboseléctricos
quecompõeumanaveespacial.
Comassentosmelhoradosejanelasmaiores,
bemcomo“iluminaçãoambiente”interiora LED,
a cabinadestanaveé claramenteumaversãodo
séculoXXIdeumacápsuladaApollo.Emboraa
questãodailuminaçãopareçaumpoucoextrava-
gante,nãoé.Estailuminaçãosofisticadaacabará
porajudara regularosritmoscircadianose osci-
closdesonodosastronautas,bemcomoassuas
emoções.Esseé dosdesafioscríticosquetêmde
sersuperadosantesdea NASAouqualqueroutra
agênciaespacialpoderenviarsereshumanosem
viagemdeváriosmesesatéMarte.
M
as quando acontecerá, fi nalmente, essa
viagem até Marte? A NASA não tem um
cronograma preciso para a exploração
humana do Planeta Vermelho. Enquanto isso
não acontecer, os esforços centrar-se-ão no
envio de astronautas à Lua, como forma de tes-
tar as capacidades dos seres humanos e das na-
ves espaciais.
“A Lua é o local de testes. Marte é o objectivo”,
afi rmou Jim Bridenstine, da NASA, em Março, no
decurso de uma apresentação em cabo Canaveral
desvendando o orçamento proposto pela agência.
Para fi xar uma presença na Lua, os astronautas
terão de estudar formas de extrair água, oxigénio e
hélio, bem como combustível para seres humanos
e máquinas. O Hélio-3, um gás que se pensa existir
ali em quantidades sufi cientes, poderia ser utili-
zado para foguetões propulsionados a fusão nu-
clear no futuro. A Lua também poderá acabar por
funcionar como plataforma de lançamento para
outros destinos: como o nosso satélite só tem um
sexto da gravidade da Terra, o lançamento de uma
nave para lá da sua atracção gravitacional requer
menos energia do que se for feito no nosso planeta.
Os defensores da exploração espacial estão in-
felizes com o orçamento da NASA, argumentando
que proporciona um calendário demasiado lento
para chegar a Marte. Jim Bridenstine contrapõe,
afi rmando que isso incentiva a indústria privada a
acelerar as capacidades de alunar uma nave tripu-
lada. No entanto, regressemos à Terra para recor-
dar alguns pontos sobre o momento actual.
Não estamos claramente onde pensávamos
que poderíamos estar há 50 anos. E não estamos
certamente onde Thomas Paine afi rmou que po-
deríamos estar – além de Marte, as luas de Júpiter
e quem sabe onde mais. Ainda nem sequer vol-
támos à Lua. Paine morreu em 1992, acreditando
que milhares de pessoas fariam férias na Lua ain-
da no seu tempo de vida. “Ninguém duvida de que
podemos reduzir o preço da viagem para a Lua até
ao preço das viagens aéreas da actualidade”, disse
à revista “Time” pouco antes de a Apollo 11 alunar.Thomas O. Paine, director
da NASA em 1969, cria que
teríamos chegado a Marte
e às luas de Júpiter por
esta data. A previsão
ainda pode tornar-se
realidade... no 100.º
aniversário da Apollo 11.