National Geographic Portugal - Edição 220 (2019-07)

(Antfer) #1
ALUA 47

Entramosnumasegunda


eraespacial.Inovações


comofoguetões


reutilizáveisreduzemos


custosdaviagematé


Marte.Restasaber


quantotempovamos


demorara láchegar.


Q


uando viajava a caminho do lançamen-
to do foguete Soyuz no Cazaquistão, fiz
uma paragem em Moscovo para conhe-
cer alguns cosmonautas e visitar museus por-
que é difícil apreciar a chegada à Lua dos astro-
nautas da NASA sem compreender o desafio
apresentado pelo programa espacial russo, que
os levou até lá.
Os americanos tendem a olhar para o esfor-
ço que os levou até à Lua da mesma forma que
vêem um jogo de futebol. Ninguém se recorda,
ou quer saber, ao certo quem esteve na lideran-
ça durante a maior parte da competição: o im-
portante é quem ganhou, mesmo que tivessem
estado a perder por uma grande margem. Nesse
aspecto, os EUA triunfaram. Fim da história.
Na Rússia, porém, onde os cosmonautas da era
soviética são ícones nacionais, ficamos com uma
noção diferente da corrida espacial. Segundo a
narrativa russa, tratou-se de uma competição e
eles venceram em termos de pontuação, embora
os norte-americanos tenham ganho a final.
A lista de estreias soviéticas no espaço é, de
facto, impressionante, desde o primeiro satélite,
cães, homem e mulher no espaço até à primei-
ra tripulação com vários elementos e o passeio
espacial. É suficiente para fazer qualquer ame-
ricano apreciar a magnitude da derrota no espa-
ço às mãos dos adversários comunistas no auge
da guerra fria. Entende-se melhor a razão para
o discurso do presidente John F. Kennedy, pro-
metendo levar astronautas à Lua e trazê-los de
volta à Terra até ao final da década de 1960: foi
uma manobra de recuperação brilhante do pres-
tígio no palco mundial.


Com algum interesse, verifiquei que os cos-
monautas com quem travei conhecimento na
Rússia pareciam partilhar dois pontos de vista
com os seus homólogos norte-americanos. Em
primeiro lugar, o tempo que passaram no espaço
tornaram-nos profundamente mais interessados
em proteger a Terra. Dois deles ofereceram-me
livros que escreveram – não sobre o espaço, mas
sobre a protecção do nosso ambiente. Em segun-
do lugar, mesmo que sejam grandes adeptos da
exploração espacial por seres humanos, acham
que a ideia de uma colonização permanente e
generalizada do espaço é uma loucura.
“Não é... agradável para dizer a verdade”, disse
Viktor Savinykh após uma longa pausa quando
lhe perguntei como se sentira ao viver no espaço.
Aos 79 anos, Viktor é famoso na Rússia pelo
papel que desempenhou na ousada reparação
da estação orbital Salyut, que estava avariada,
coberta de gelo e perigosamente fora de órbita,
em 1985. “É tão fácil ficarmos desorientados.
Não conseguimos lembrar-nos das coisas lá em
cima”, acrescentou. “É muito difícil para o cére-
bro. Todo aquele sol nos nossos olhos. É difícil
descrever. O nosso corpo fica mais fraco.”
Apesar de tudo, ele reconhece que a visão de
Jeff Bezos poderá concretizar-se um dia. “Não
tenho respostas para isto”, respondeu. “A nova
geração e depois a outra e a outra a seguir é que
vão decidir. Nós fizemos a nossa parte.”
Perto do fim da conferência espacial a que as-
sisti em Washington, um painel de astronautas
norte-americanos respondeu a perguntas grava-
das em vídeo, feitas por miúdos em idade escolar
de todo o mundo.
“É possível viajar de galáxia em galáxia?”, pergun-
tou um rapaz de 5 anos chamado Braith Ortenzi.
“Fico contente por ele pensar em grande!”, res-
pondeu Chris Ferguson, veterano de três missões,
que participará na primeira viagem de Boeing
Starliner rumo à estação espacial. “Vamos ter de
dominar esta questão da velocidade da luz para
podermos viajar de galáxia em galáxia”, disse, en-
quanto o público irrompia numa gargalhada.
“Ele vai desenvolver a tecnologia para o fazer-
mos!”, interrompeu Victor Glover, um astronau-
ta que participará no primeiro voo espacial da
SpaceX Crew Dragon.
“Por favor, leve-nos”, disse Nicole Stott, astro-
nauta reformada que visitou duas vezes a esta-
ção espacial. “Leve-nos consigo!”
Acenando a cabeça com um sorriso, Victor
teve a última palavra: “É contigo, mano!” j
Free download pdf