National Geographic Portugal - Edição 220 (2019-07)

(Antfer) #1
CONÍMBRIGA 63

Como qualquer instituição cultural portuguesa, o
MNC equilibra-se entre o muito que gostaria de fa-
zer e os recursos disponíveis, reconhecendo sempre
que, por cada metro quadrado adicional de área es-
cavada, nascem novos problemas de conservação.
A prioridade será dada à expansão para o anfiteatro
através da aquisição das propriedades que ainda se
encontram em mãos de privados. O conhecimento
da cidade continua a ser como um dos mosaicos da
Casa dos Repuxos: a figura de fundo está perfeita-
mente identificada, mas faltam tesselas que permi-
tam ver todas as nuances da longa história de uma
cidade que sobreviveu durante dois mil anos, entre
o Bronze Final e a Alta Idade Média. Nem todas en-
caixarão na visão românica que temos da história,
mas aprendemos em Conímbriga que o mínimo
fragmento pode ter significados inesperados. j

Entretanto, o que ainda funcionava prosseguiu
ao serviço, tal como mais tarde, quando o domí-
nio muçulmano impuser novas reestruturações
de poder, a população prosseguirá a sua vida. Os
suevos trocam rapidamente a espada pelo arado,
escreve Paulo Orósio, cronista do século V.
A Conímbriga do período muçulmano é igual-
mente uma caixa de surpresas, embora a investi-
gação nos próximos anos possa acrescentar mais
informação a um período mal compreendido. Sa-
be-se porém, pela análise de fauna, que continuou
a ser consumido porco como anteriormente – um
indício claro de continuidade cultural. “A região
já seria muito setentrional para os muçulmanos.
Para aqui, teriam vindo as linhas avançadas do
exército, mas não uma população colonizadora.
A vida continuou”, diz Virgílio Hipólito-Correia.

Free download pdf