Psique - Edição 135 (2017-05)

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IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL


Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutor pelo Instituto de Psiquiatria (IPq)
da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em
Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em
Sexualidade Humana da USP.

NÃO HÁ UMA ALTERAÇÃO ESPECÍFICA
DURANTE O PERÍODO GESTACIONAL QUE
PROMOVA PERDA DO INTERESSE SEXUAL, E SIM
O RESULTADO DA INTERAÇÃO DOS ASPECTOS
BIOLÓGICOS COM OS EMOCIONAIS E SOCIAIS

nado a sentimentos de fragilidade, se-
jam eles motivados pelas dificuldades
emocionais pertinentes à gestação e/
ou problemas relacionais com a parce-
ria, entre outros.
Terceiro trimestre: Nessa fase, o
parto está próximo, e consequente-
mente a ansiedade aumenta, não é
incomum a diminuição do interesse
sexual ocasionado pelo estresse asso-
ciado à iminência do parto; além disso,
as mudanças físicas, mais acentuadas,
podem acarretar dores físicas que,
TAMBÏM  INmUENCIARÎO NEGATIVAMENTE
na resposta sexual.
O acompanhamento médico é im-
prescindível durante toda a gestação.
Quanto mais bem preparado esse
profissional estiver em relação aos as-
pectos concernentes à sexualidade de
suas gestantes, dúvidas poderão ser
esclarecidas e dirimidas; assim como
orientar para que a atividade sexual
seja interrompida, em situações que
possam comprometer a saúde da mãe
e/ou do feto. Muitas vezes, um acom-
panhamento psicológico pode ser im-
portante também.
Quando não há intercorrências,
a atividade sexual pode ser mantida
durante a gravidez, aliado ao fato de
que a maior produção de hormônios
durante o período gestacional promo-
ve incremento da lubrificação vagi-
nal. Portanto, um bom caminho a ser
seguido pelas futuras e/ou presentes
gestantes é o conhecimento sobre as
alterações que seu corpo e psiquismo
enfrentarão nesse período. A instru-
ção aliada aos aconselhamentos por
profissionais envolvidos com a temáti-
ca da sexualidade humana podem ser
de grande valia para a promoção de
uma qualidade de vida sexual satisfa-
tória durante a gestação.

namento sexual, dividiremos o perío-
do gestacional em três trimestres.
Primeiro trimestre: Durante essa
fase, questões como aceitação e/ou
rejeição da gravidez poderão ser rele-
vantes e causar angústia. Sentimentos
ambíguos em relação a esse momen-
to da vida poderão estar presentes, os
quais, na grande maioria das vezes,
irão repercutir na resposta sexual. Vá-
rias mulheres não notam diferença no
desejo sexual no primeiro trimestre
da gravidez, algumas referem, inclu-
sive, melhora no desempenho sexual;
entretanto, outras apresentam uma
diminuição e/ou falta do interesse se-
xual. Não podemos esquecer que as
alterações hormonais poderão causar
sintomas como: náuseas, vômitos, so-
nolência e até mesmo depressão, que
também refletirão de forma negativa
no desempenho sexual.
Segundo trimestre: Habitualmen-
te, os temas relacionados à aceitação/
rejeição deixaram de compor o cená-
rio das gestantes (na sua maioria), é
uma fase que várias mulheres referem
melhora da autoestima, e, consequen-
temente, percebem-se mais felizes
com sua aparência, o que influenciará
positivamente no desempenho sexu-
al. Associado ao fato de que sintomas
como náuseas, vômitos e sonolência
tendem a desaparecer, o que promove
bem-estar. Por outro lado, para outras,
pode ocorrer diminuição do desejo se-
xual, que frequentemente está relacio-

de inibirem as contrações uterinas,
evitando os partos prematuros. Ou-
tro hormônio relevante, que aumenta
uniformemente durante a gravidez, é a
prolactina – que influenciará na produ-
ção do leite pelas glândulas mamárias,
assim como no aumento das mamas.
Já o hormônio ocitocina, que aumenta
bastante no final da gestação, possi-
bilitará que as contrações uterinas se-
jam ritmadas, até o nascimento, além
de reduzir o sangramento durante o
parto. A ocitocina também é liberada
durante a amamentação e faz com que
o leite flua com mais facilidade; assim
como ela tem importância na ligação
afetiva entre a mãe e o bebê.
Tendo em vista o mencionado, o
corpo da mulher passará por diversas
mudanças durante a gravidez. Vale
lembrar que não há uma alteração
específica – durante o período ges-
tacional – que promova a perda do
interesse sexual, e sim o resultado da
interação dos aspectos biológicos com
os emocionais e sociais. Por exemplo:
a gravidez pode ser um dos momentos
para o redimensionamento dos víncu-
los afetivos de um casal, que poderão
influenciar na intimidade e na respos-
ta sexual; outro aspecto que merece
ser lembrado diz respeito às “cren-
ças, mitos e tabus” que acompanham
as alterações pelas quais o corpo das
mulheres passará. Está relatado que
mulheres com conhecimento das mu-
danças físicas que seu corpo enfren-
tará terão uma relação mais saudável
com diversos elementos de sua sexu-
alidade; ainda mais quando a parceria
estiver envolvida nesse processo. Para
facilitar o entendimento e suas possí-
veis influências da gravidez no funcio-
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