Psique - Edição 135 (2017-05)

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bem, como afirma Rüdiger Dahlke, “o
sintoma é um sinal que atrai a atenção,
o interesse e a energia, pondo simulta-
neamente em risco o fluxo natural dos
processos” (1999, p. 15).
A medicina tem estudado e pes-
quisado muito diante dessa realidade.
No entanto, não se tem chegado à raiz
do problema. O que realmente acon-
tece para que o câncer possa se ma-
nifestar? Ou, ainda, o que torna essa
doença tão fatal? Partindo dessa ver-
dade, Dahlke diz que “a doença é um
estado do ser humano que indica que,
na sua consciência, ela não está mais
em ordem, ou seja, sua consciência re-
gistra desarmonia” (1999, p. 17).
Ao faltar a consciência, o sintoma
do câncer começa a se manifestar. A
pessoa, na realidade, dá vida e existên-
cia para ele. Para o psicanalista Salézio
Plácido Pereira, “toda doença, indireta-
mente, tem uma função simbólica para
representar um desejo inconsciente, o
corpo é a expressão das sequelas e cica-
trizes adquiridas durante a sua existên-
cia” (Pereira, 2010, p. 66).
Nesse caso, o câncer, que em sua
essência necessitou da falta de algo
para se manifestar. Esse algo foi in-

A


o entrar na realidade
da doença do câncer,
muitas perguntas sur-
gem, tais como: como
o conteúdo do câncer
se manifesta? Qual seria a sua ori-
gem? Hoje, essa doença tem ocu-
pado e preocupado grande parte da
população. Desde pesquisadores da
área, médicos a leigos e pessoas com
o devido sintoma. O que se percebe
é o número crescente de casos. Ape-
sar dos avanços na área, ainda não se
conseguiu uma cura definitiva dessa
realidade assustadora.
A humanidade na atualidade está
passando por vários transtornos. Es-
tresse, depressão, a perda do sentido
da vida, individualismo, consumismo
e o descartável. Todas essas realida-
des levam à desarmonia do humano,
desencadeando a doença.
O artigo pretende levantar a dis-
cussão de uma verdade tão atual e si-
lenciosa como é o câncer. Diante de
sua natureza destrutiva, o humano
encontra-se sem saída, no vazio de sua
existência. Esse sintoma tem uma lin-
guagem e um conteúdo manifesto que
necessita ser decifrado e entendido.
A Psicanálise busca um novo en-
tendimento para essa realidade. Olha
para a doença para buscar aquilo que
está escondido e latente. Ao investigar
a sua história, se defronta com o fato
de que esse sintoma necessita de um
impulso para se manifestar sobre o or-
ganismo humano. A atitude analítica
surge como ponto de partida frente a
essa verdade.

Conteúdo manifesto


A


doença psicossomática do câncer
tem seu simbolismo e sua lingua-
gem, os quais se manifestam de manei-
ra autodestrutiva no organismo huma-
no. O sintoma do câncer, muitas vezes,
nasce de uma realidade de sofrimento,
dor, ódio, os quais a pessoa incons-
cientemente introduziu em sua vida.
Como um sinal de que algo não está

Diante de sua
natureza destrutiva,
o humano
encontra-se sem
saída, no vazio
de sua existência.
Esse sintoma tem
uma linguagem
e um conteúdo
manifesto que
necessita ser
decifrado e
entendido

A doença se manifesta quando o huma-
no perde a harmonia. Mas que harmonia?
Essa desarmonia seria quando não se tem
consciência de si e de sua própria realidade.
Quando a consciência está em falta, o sin-
toma começa a se manifestar. O que equi-
vale é a sua realidade, na qual se elabora um
método para criar uma doença. Segundo
Dahlke, “essa doença se manifesta no corpo
como um sintoma. Então, o que se tem é
a comprovação de que algo nos falta. Falta
consciência, e, portanto, tem-se o sintoma”.

ŒDesarmonia Œ


troduzido pela própria pessoa que a
criou, quando lhe faltou a consciên-
cia. Assim, podemos entender que ele
se manifesta no organismo humano
quando a consciência está em falta.
Nessa falta, o que se concretiza são as
raízes autodestrutivas do câncer. Esse
sintoma psicossomático desencadeia
uma reação no organismo aniquilan-
do com tudo o que gera a vida.
Não tendo consciência disso, a
pessoa vai se apagando, se autodes-
truindo. No entanto, quando se toma
consciência deste, se abre a possibi-
lidade de se livrar dessa realidade de
doença e morte.

Origem do câncer


F


reud, ao estudar os primórdios da
Psicanálise, descobriu que os sin-
tomas se manifestam no conteúdo la-
tente. Isto é, aquilo que está guardado
e escondido, que ainda não chegou à
consciência. O sintoma expressa uma
linguagem própria e única, aquilo que
está faltando. Ao mergulhar no conte-
údo do câncer, depara-se sobre a rea-
lidade da sua origem. De que modo e
como este se manifesta?
A medicina realiza um diagnós-
tico sob a etiologia naquilo que já se
manifestou, esquecendo-se de entrar
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