Ana Maria - Edição 1185 (2019-07-04)

(Antfer) #1

P


rovavelmente, em alguma fase da vida, você já tenha considerado
que estava “prestes a explodir”. A raiva é um sentimento comum,
principalmente quando estamos lidando com problemas ou sendo
injustiçados. Porém, imagine passar por isso todos os dias, até diante
das circunstâncias mais comuns. É dessa forma que uma pessoa com
transtorno borderline se sente. O termo em inglês significa “próximo ao limite”
e remete à sensação de viver sempre à beira de um estouro emocional, principal-
mente quando se trata de amor. Graças a isso, vínculos que deveriam ser motivo
de felicidade acabam se transformando em um verdadeiro tormento. Confira a
seguir a entrevista com Ana Beatriz Barbosa, psiquiatra e autora do livro Mentes
Que Amam Demais (Principium, R$ 44,90) para entender mais sobre o assunto:

DO QUE SE TRATA O TRANSTORNO?
Antes de tudo, é uma maneira de ser, de funcionar. Ele tem quatro características
principais: instabilidade emocional, grande impulsividade, autopercepção distorcida
e um padrão de relacionamentos afetivos complicados, com sentimentos fortes de
posse e ciúme. Em geral, os borders (como são chamadas as pessoas que sofrem com
o transtorno) apresentam reações exageradas e de muita raiva diante das frustrações.
Sua principal ferida emocional? O medo da rejeição.

COMO ELE AFETA OS RELACIONAMENTOS?
O transtorno desperta uma montanha-russa de
emoções: qualquer situação tola pode ser encarada
de maneira fatalista. Imagine que a pessoa está
em casa com o parceiro e o telefone toca. Só isso
pode ser uma brecha para imaginar que se trata de
um amante e já é o suficiente para virar a cara, se
comportar como se estivesse sendo traído, mesmo
que não diga nada. Tudo isso leva a uma necessidade
grande de controlar a vida do outro, traz brigas
e situações de desespero, algo que desgasta a
convivência. Quanto mais a paixão aumenta, mais
pesadas estas pessoas se tornam. Com o tempo, se
existe um rompimento da relação, o border pode
desenvolver um forte quadro depressivo. Muitas
vezes, é somente diante dessa situação que procura a
ajuda de um profissional.

AS RELAÇÕES
DE TRABALHO
E FAMILIARES
TAMBÉM SÃO
AFETADAS?
No trabalho, os borders
costumam ser pessoas
bem-sucedidas. Quando
mergulham em um projeto,
por exemplo, fazem isso com
intensidade, profundidade.
No entanto, uma vez que
estão mal afetivamente, o
turbilhão de emoções passa
a afetar negativamente o
desempenho, porque só se
concentram naquilo. Já as
relações familiares podem
ser fortemente impactadas.
Eles podem cobrar muito
afeto dos pais, por exemplo.

É MAIS COMUM NAS MULHERES
DO QUE NOS HOMENS?
Os números indicam que sim. Antigamente,
acreditava-se que somente elas eram afetadas por
esse transtorno. Hoje, sabemos que não. Homens
também estão sujeitos ao quadro, cuja principal
característica é não se sentir uma pessoa inteira a
não ser que tenha a companhia do outro. A pessoa,
seja homem ou mulher, sente que não consegue
viver sem o parceiro.

OS BORDERS JÁ NASCEM
COM O TRANSTORNO?
Existe um componente genético grande que colabora para o
desenvolvimento. Trata-se de uma característica no DNA que leva
a pessoa a funcionar dessa maneira. No entanto, o mais comum:
os sinais começam a se manifestar na adolescência,
quando surge a primeira paixão – seja ela platônica ou não.

COMO É FEITO
O TRATAMENTO?
O principal ponto é o
autoconhecimento: ele
ajuda a pessoa a rever
sua personalidade e a
lidar com as frustrações.
Podem ser usados
medicamentos como
antidepressivos e
estabilizadores de humor
para auxiliar no processo.

SE NÃO TRATADO,
PODE TER
CONSEQUÊNCIAS?
Sim! Além da dificuldade
em estabelecer relações
saudáveis, o border
também pode apresentar
comportamentos
autodestrutivos, como
automutilação e até
tentativas de suicídio diante
de perdas e rompimentos.
ILUSTRAÇÃO: GETTY IMAGES


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