Ana Maria - Edição 1185 (2019-07-04)

(Antfer) #1
A primeira vez que passei mal
devido a questões emocionais
foi em 2014. Estava em um
relacionamento conturbado. Eu
e meu então namorado tivemos
uma briga pelo celular durante
meu expediente de trabalho.
Precisei ir para o hospital. Lá,
recebi o encaminhamento para
um psiquiatra. Acabei não indo.
Dois anos depois, as crises já
estavam piores. Passei a ter
alterações bruscas de humor,
raiva, ansiedade, insônia e, nos
episódios piores de desespero,
me machucava propositalmente.
Só então procurei ajuda médica
e iniciei o tratamento com
medicamentos e terapia. Apesar
disso, o diagnóstico borderline só
aconteceu dois anos depois.
Sempre tive medo de ser
abandonada, desde a infância.
Quando o telefone tocava, ficava
com receio de atender e receber
alguma notícia ruim sobre os

Impulsividade que
pode resultar em gastos
excessivos, compulsão
alimentar, por sexo ou vício
em drogas.

Ira inapropriada e intensa,
manifestada por meio de
agressões, destruições de
objetos ou autoflagelo.

Instabilidade de humor:
amor ou ódio. Logo depois
das brigas, vem a depressão
ou a culpa.

Relações interpessoais
conturbadas e intensas.

Esforços constantes para
evitar o abandono.

Sentimento crônico de
vazio interior.

Como se a


minha alma


estivesse


machucada


THAIS CAVALCANTE,
24 anos, professora
de políticas públicas
de saúde, de São José
do Rio Preto

meus pais. Na escola, chorava
com frequência porque queria
ver minha mãe. Era apegada
a ela e, ao longo da vida, fui
transferindo essa dependência
para outras pessoas. Primeiro,
para as amigas. Depois, para os
namorados. Apesar de ser jovem,
já tive cinco relacionamentos.
Inconscientemente, tenho medo
de ficar sozinha. Em todos os
términos, sofri de forma muito
intensa, profundamente, como se a
minha alma estivesse machucada,
como se o mundo tivesse acabado.
Ou amava demais ou odiava
profundamente a pessoa, por
sentir que tinha sido pisada,
descartada, independentemente
da forma como havia acabado.
Não comia, tinha febre, estava
sempre nos extremos.
Hoje, estou em um
relacionamento que considero
saudável. Mas ainda é difícil:
muitas vezes, basta ele ir embora
que já penso que posso ter
feito algo errado, que não sou
suficiente e, por isso, ele vai me
abandonar. No início do namoro,
chegava a vomitar antes de
vê-lo, por acreditar que iríamos
romper. É horrível viver sob essas
condições. A sorte é que com
o tempo os medicamentos me
ajudaram a regular o humor,
que variava muito durante
o dia. A psicanálise também
tem feito diferença. Semana
passada foi a primeira vez em
anos que consegui agradecer
pela vida. Antes, estava sempre
me lamentando. Espero que as
pessoas que estiverem passando
por uma situação parecida
não desistam de encontrar um
caminho, porque ele existe. Eu
consegui achar o meu.

Principais


SINTOMAS


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