Viajar pelo Mundo - Edição 120 (2019-07)

(Antfer) #1
MARROCOS

106 VIAJAR pelo Mundo


P


ara fugir da insistência do vendedor,
subi ao terraço da loja de tapetes ale-
gando que queria ver a vista. Estáva-
mos bem no meio da medina, e ali do alto
dava para ver em detalhes parte do amon-
toado de casas sem acabamento, com rou-
pas no varal e uma coleção de antenas pa-
rabólicas. Qual não foi minha surpresa
quando, já prestes a descer, fui pega de
surpresa pelo cântico emocionante que
convoca os muçulmanos para as orações.
Era fim de tarde, a luz estava na sua me-
lhor hora, e o minarete da mesquita ao la-
do soava o chamado com bastante clareza.
Essa aura meio mística que me do-
minou naquele momento faz jus ao títu-
lo de “capital espiritual” atribuído a Fez,

cidade de mais de 1 milhão de habitan-
tes fundada no século 8º – e que, desde
então, já foi também a capital adminis-
trativa do reino em mais de uma oca-
sião. Agora, o papel espiritual se deve
em parte ao grande número de mesqui-
tas, que beira 800. Além de ser a mais
antiga, a medina de Fez ainda está en-
tre as mais autênticas do circuito turísti-
co do Marrocos, acessada por portas co-
mo a de Bab Bou Jeloud.
Há grandes joias a serem admiradas
naquele emaranhado com mais de 9 mil
ruelas, tombado como Patrimônio da Hu-
manidade. Comecemos pela antiga ma-
draça Bou Inania, do século 14 – uma
escola que hoje já não se dedica ao en-
sino do Alcorão, mas ainda funciona co-
mo mesquita (ingresso: 20 dhs). Chama
a atenção sua arquitetura que mistura o
estilo rebuscado dos mouros com o rústi-
co dos berberes, que emprega muita ma-
deira em suas construções. Do outro lado
da ruela está o Magana, um curioso reló-
gio hidráulico que media as horas de acor-
do com o tempo de escoamento da água.
A medina de Fez também guarda a
universidade mais antiga do mundo ainda
em atividade. Sim, atestada pelo Guinness
Book, ela fica no Marrocos e não na Euro-
pa, como talvez seja de praxe inferir. É a
Karaouine, fundada por uma rica mulher
muçulmana vinda da Tunísia em 859. Co-
meçou como mesquita e, pouco a pouco,
foi incorporando aulas de campos diversos
entre suas atividades. Turistas, porém, só
podem espiar pela porta, já que o lugar se-
gue em atividade como mesquita.
A menos de 300 metros dali, está a
Nejjarine, mais notável entre as mui-
tas fontes de água potável dentro da me-
dina, toda trabalhada em azulejos de-
corativos. Ela fica na fachada do atual
Museu de Artes e Artesanatos em Ma-
deira, num prédio do século 17 que

Fez


UNIVERSIDADE KARAOUINE

Fotos: Walkabout Photo Guides/ John_Walker/ Shutterstock.com e Cristiane Sinatura

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