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WAL REIS
é jornalista, profissional
de comunicação
corporativa e escreve
sobre comportamento^
e coisas da vida.Q
uando a gente está no Metrô e
vê no fundo do vagão aquele
homem tentando disfarçar o
choro atrás dos óculos escuros; quando
sua amiga pede socorro no meio da
madrugada porque a dor, para a qual não
existe analgésico, estava insuportável;
quando o mundo fica sem propósito e
sair da cama exige um esforço incrível,
existe um nome e um sobrenome por
detrás de cada uma dessas tristezas.
Aliás, existe um nome e sobrenome para
quase todas as tristezas. E seu mundo
retrocede por conta daquele CPF. Tudo
funcionava tão bem e, de uma hora
para outra, as engrenagens da vida
emperram. Você tem um monte de
possibilidades no trabalho, uma família
que te ama, saúde para dar e vender.
Às vezes até dinheiro. Mas nada
motiva: aonde quer que vá arrasta
aquela corrente: uma corrente com
nome e sobrenome.
É injusto tudo estancar – menos
as lágrimas – por conta de outro ser
humano, que nem pediu para ser o
motor de arranque da sua existência.
Ou que não está mais aqui por
FOTOS: GETTY IMAGESabsoluta falta de arbítrio, que se foi ARQUIVO PESSOAL
Alguns lutos
são assim: para
passar de fase
é necessário ir
desapegando em
ritmo próprio,
para que, um
dia, aquele nome
e sobrenome
não passe de
um registro em
algum cartório
civil do mundoe deixou só isso mesmo: o nome e o
sobrenome. A mesma alcunha que foi
adicionada com alegria em sua lista
de contatos. Figurou entre os favoritos
da agenda eletrônica. Agora está ali,
perdida entre tantas outras, em ordem
alfabética, e não mais como contatoconstante. Os algoritmos
da inteligência artificial do seu celular
foram mais hábeis para entender que
aquele nome e sobrenome deveria
ser colocado de lado. Você conseguiu
excluir todas as conversas e mídias,
porém não teve fôlego para sacá-los
de vez, embora saiba que, apesar
de o número ainda estar registrado
pelo mesmo assinante, ao chamar
seria atendido por outra pessoa,
com igual nome, sobrenome e,
macabramente, a mesma voz, mas
a similaridade pararia por aí. Alguns
lutos são assim: para passar de fase
é necessário ir desapegando em
ritmo próprio, para que, um dia,
aquele nome e sobrenome não
passe de um registro em algum
cartório civil do mundo.Envie suas perguntas para Thiago Vieira pelo e-mail [email protected] suas perguntas para Wal Reis pelo e-mail [email protected]As
DORES
com
nome
e
sobrenome
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