RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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de substâncias químicas. Vejo uma tristeza profunda em seu
olhar, perdeu o viço, está ficando tão artificial, quase não lhe
reconheço.

TOM: e daí? Que se danem os humanos. Comem porque
querem, problema deles. A gente é que se modifica, sai do
nosso estado natural pra servir à ganância deles (suspira). Eles
não estão nem aí pra gente.

DONA FLORA: Tom, pense comigo. Temos que ter um propósito
na vida e procurar fazer o bem para si e para as pessoas. Você
sabia que enganaram seu pai e, assim como você, ele veio pra cá
pensando que arrumaria um emprego melhor, e nunca mais se
soube dele. Foi dado como morto (chora novamente).

TOM (pálido): nunca imaginei isso, acredite. Lembro agora
de Carijó, a galinha de Dona Odete que foi pro abatedouro e
desapareceu. No campo, ela botava ovos de quintal, não era?
Lembro de Cida, a cenoura, Agripino, o pepino, que saíram de lá e
nunca mais voltaram. Na minha cabeça, eles tinham se dado bem.
Nunca imaginei.

Tom esconde o rosto, está envergonhado.

DONA FLORA: pois é, meu filho, no campo, onde somos cultivados
de forma orgânica, sem pesticidas, naturais, somos mais
saudáveis, vivemos bem e todos saem ganhando. Você entende?
De que adianta fama e sucesso às custas do nosso sacrifício e da
saúde dos humanos?

TOM: seu erro foi tentar me proteger demais e não me contar.
Nada disso teria acontecido. Pensa que foi fácil pra mim ficar
confinado nesse Tomatário do inferno durante esses dias e
lembrando de vocês, sem ter como manter contato?(chora).

Mãe, você me perdoa?

DONA FLORA: qual é a mãe que não perdoa um filho? Vem cá, me
dá um abraço.

Tom abraça a mãe e ambos choram emocionados.
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