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(Oficina dos Filmes) #1

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Em nome do Senhor! Espero não acontecer mais nada. Só tenho a
lhe agradecer. Que Deus lhe proteja!(Pausa e prossegue com voz
tímida) Se o senhor precisar de uma atendente de balcão, posso
trabalhar no seu bazar.

MURILO AHMED (Olha para Linda surpreso):
Sinto muito, senhora, não posso lhe contratar com o que ganho
aqui. Minha mulher é quem faz os lanches que eu vendo aqui e
eu mesmo preparo o café e tiro o chopp para os clientes, que são
poucos, a maioria, estudante.

LINDA: Obrigada assim mesmo. Boa Noite!

GERARD DURAND (Saindo do bazar, chega à porta):
Já estou indo também, libanês!

MURILO AHMED (Olha pra seu interlocutor sem alterar o
semblante, mas em tom sério):
Tá brincando, Milord! Sou brasileiro! Nem meus pais eram
libaneses. Diziam que seus antepassados eram de Al-Andalus e
vieram pra cá por causa do Santo Ofício com o nome de Almeida.

GERARD DURAND: E como você foi se chamar Ahmed? Pensei que
você fosse libanês. Fui treinado com soldados árabes de colônias
francesas aliadas de De Goulle. Conheci muitos com esse nome.

MURILO AHMED: Meus avós nasceram no Brasil, mas deram a
meu pai o nome Ahmed, em vez de Almeida, para homenagear
seus antepassados e também o profeta Maomé. Mas só sei até aí.

GERARD DURAND: Voilà! Quelque chose c’est la même chose.
Aqui, árabe é libanês, nordestino é paraíba e asiático é china.
Ainda hoje me chamam de China por causa de meus olhos meio
puxados. (Pausa) À demain, Mohamed!

CENA 5 ∙ INTERNA/BAZAR ∙ MANHÃ DE SOL

Mal Murilo Ahmed termina de abrir o Bazar, Gerard Durand chega e
pede um cafezinho.

GERARD DURAND: Alguma novidade?

MURILO AHMED (Veste o avental limpo de sarja branca e prepara
o café):
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