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GERARD DURAND: O que estão fazendo? Resolveu esculhambar
o bazar abrindo até tarde pra esse bando de ignorant ficar aí
enchendo a cara? Só prestam pra fazer barulho!
MURILO AHMED (Limpando as mãos no avental branco já meio
sujo pelo uso do dia):
Se quiser ouvir música, melhor vir à tarde. Não são ignorantes.
São estudantes. Estão bem alegres hoje. Acho que vai ter
manifestação na semana que vem. (Pausa) Por anistia.
GERARD DURAND: Anistia! Só se for pra infestar o país de
comunistas e terroristas!
MURILO AHMED: Ontem, quando estava abrindo o Bazar, vi que
tinham explodido uma banca de revistas do rapaz aí em frente. E
não foram os comunistas. Dizem que foi uma patrulha militar que
atirou a bomba porque o dono andava vendendo O Pasquim e A
Hora do Povo.
GERARD DURAND (Colérico): Merda! Tomara que ele se exploda.
Se eu fosse Governo, mandava prender todos e deixava mofar
lá na cadeia. Jornalistas, principalmente, pra ver se respeitam
autoridade e param de dizer mentira. Deviam ir tudo pro pau de
arara!
(Olhando para o grupo aponta um barbudo, alto, de cerca de 30 anos)
Esse ali não é aquele que saiu no jornal outro dia? Preso na
manifestação?
MURILO AHMED: Não sei. Acho que ele não tem problemas com a
justiça. É professor do cursinho.
GERARD DURAND: Deve ser um doutrinador marxista. Todos eles
são. Esses vermelhos, bandidos, preguiçosos deveriam distribuir
seus bens pra população. Bando de comunistas de araque. E
usam barba pra parecer Fidel. Deveriam ir pra Cuba!
MURILO AHMED: Fique calmo, Durand. Eles podem ouvir. Não
quero confusão aqui. São clientes. As coisas estão melhorando
pro meu negócio. Você sabe... tempos difíceis. Inflação...
GERARD DURAND: Preciso ir. Vou receber uma visita amanhã
cedo. Sabe? A senhora que quebrou o salto? Linda, que de linda