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(Oficina dos Filmes) #1

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não tem nada, arranjou trabalho na lanchonete em frente ao
restaurante. Ontem, me perguntou se eu sabia de vaga pra moças
aqui no centro. Eu disse para ela ir procurar uma no meu prédio
e que fosse lá amanhã. Na verdade, tenho um quarto de serviço
que acho que vou alugar pra ela.

MURILO AHMED: Todo mundo tem de dar o seu jeito de ganhar a
vida, não? (Pausa) Ofereça. Se ela aceitar...

GERARD DURAND (Saindo, olha para a rua, surpreso, aponta para
uma moça):
É a tal que chegou outro dia pra trabalhar no Louis Restaurant.
Dei a ela o livro e parece que gostou, mas não se interessou pelos
franceses. Ontem mesmo chegou um amigo meu de Paris louco
pra sair com uma brasileira. Parece gostar de mulatas.

MURILO AHMED: Desse tipo você não gosta. Você discrimina
negro, pobre, favelado, nordestino, pederasta e até a si mesmo,
escondendo sua origem.

GERARD DURAND: Não gosto mesmo não. Nem finjo que gosto.
Por mim, deviam voltar pra África. Tudo cara de macaco! Se não
fosse o que fizeram, até que tinham razão os alemães. Elegantes,
marchavam a passos de ganso, altos, fortes, brancos...

MURILO AHMED: E esse francês?

GERARD DURAND (Despedindo - se de Murilo Ahmed):
Mon ami? Diz que trabalha numa companhia de navegação e
vai ficar uns meses. Ganha muito bem. Falou que essa empresa
vai transportar magnesita e granito do Brasil. Se você souber de
alguma mulata...

MURILO AHMED: Não mexo com essas coisas. À demain, Milord!
(O burburinho continua entre os freqüentadores e Murilo avisa) Ei,
pessoal, adianta aí que vou fechar! Deixem os copos no balcão
e recolham tudo. Dos 30 que tinha aqui, só sobraram 18. Se
continuarem sumindo desse jeito, na próxima semana, vai sumir a
saideira.

CENA 8 ∙ INTERNA ∙ BAZAR ∙ FIM DA MANHÃ

CLÁUDIO(Chega e se senta no banco da lanchonete. Pede um chope.
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