152
CENA 9 ∙ EXTERNA ∙ FRENTE DO BAZAR ∙ À TARDINHA
Jovens se amontoam nas imediações do bazar esperando abrir a
porta do cursinho.
MURILO AHMED (Arrumando a tabuleta, escreve: Hoje!/ Sexta–feira/
Compre 2 Lanches /Sangria grátis / “copo americano”. Fecha às
22:00. Não servimos saideira)
JORGE (Chega com um caderno embaixo do braço): E o chope? É
grátis também?
MURILO AHMED: Deixe de ser folgado, engraçadinho. Nem pensar.
Já se matriculou?
JORGE (Brandindo o caderno): Sim. Vou tirar de letra.
CARMEM (Moça magra, de uma palidez romântica e rosto
angelical, cabelo pretos, amarrados em coque alto, batom
vermelho, saia midi vermelha com estampas floridas e camiseta
branca chega à porta e dirige-se a Jorge, meio desajeitada.):
Oi, vamos subir?
JORGE (Olha para Murilo e volta-se para Carmem): Conhece
Murilo?
MURILO AHMED: Ela nunca entrou aqui, mas sei que trabalha no
restaurante francês. O gerente de lá me falou.
JORGE: É verdade, Murilo? Você conhece aquele pinguim de
geladeira?! Carmem, esse é Murilo, um velho amigo. Conhece
todo mundo. Até seu gerente, que come sardinha e arrota caviar.
MURILO AHMED: O francês! Não é má pessoa. Teve uma vida
difícil. Estava num internato quando os pais foram levados para
o campo concentração de Drancy e de lá desapareceram. O pai
era francês, mas a mãe era judia. Tinham um restaurante que foi
tomado pelos nazistas. Perdeu tudo...
CARMEM: É intragável, às vezes, mas não tenho nada contra.
Jorge é que fica implicando com seu Geraldo porque ele quer
que eu saia com os amigos dele. Uns estrangeiros fregueses no
restaurante.
MURILO AHMED: Nem ligue. Aquele lá quer parecer bacana, mas