156
GERARD DURAND: Melhor assim. Já tem esse cursinho aí em
cima. Essa garotada toda noite reunida aí do lado de fora. Daqui
a pouco fecham seu bazar e vão acabar com a minha festa. Onde
vou refrescar minha cabeça? Ouvir música boa? Não vou aguentar
trabalhar todo dia com aquele bando de nordestino e negro
analfabeto. Do cozinheiro ao cumim, tudo burro, ignorant!
MURILO AHMED (Colocando os livros de Hirszman numa sacola e
jogando pro canto):
E Linda? Conseguiu a vaga?
GERARD DURAND: Sim. Só é xexelenta. Toda noite orando e
repetindo “Em nome do Senhor! Jesus isso, Jesus aquilo outro!”
Dá até pena do Cristo. Fica só pedindo graça e fazendo oração.
Enterra a cara na bíblia a noite inteira. Acho que não é muito boa
da cabeça. Fanática!
MURILO AHMED: À la porte! Já está querendo fazer com ela como
faz com os empregados do restaurante?
GERARD DURAND: Não. Até estou achando bom porque, além do
aluguel, de vez em quando a irmãzinha dela vem fazer uma visita.
Tão lourinha, novinha e bonitinha.
MURILO AHMED: Cuidado. Veja se não é menor.
GERARD DURAND: Já convidei pra jantar no Louis. No próximo
sábado. Disse que vem com uma amiga. É por minha conta. Vou
servir pessoalmente.
MURILO AHMED: Preparando esquema para os gringos?
GERARD DURAND: Essa é pra mim. A amiga não sei. Pode ser. Au
revoir!
(Sai apressado, pescoço meio curvado, ajeitando o suspensório)
CENA 12 ∙ INTERNA ∙ BAZAR ∙ À TARDINHA
Cláudio, agachado no canto de uma prateleira, no fundo, olha os
livros deixados numa sacola.
MURILO AHMED (Olha vigilante para Cláudio enquanto expõe
a placa da sexta-feira na entrada do bazar: Só hoje! compre 3