RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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ANBIA ∙ V.O.


Mas, voltando ao benfeitor. O que ainda aumenta a sua virtude
é que ele mesmo poderia estar levando seu lixo; não é mesmo?
Mas ele preferiu ajudar a menininha e, de mãos vazias, galgar
os degraus das escadas com a menininha ao seu lado carregando
o seu saco de lixo e agradecida pelo favor e o prestígio que
lhe está sendo oferecido. Além do mais, nosso benfeitor está
ajudando uma pobre coitada raquítica encontrada na lata do lixo,
provavelmente, a levar mais um pãozinho para casa para ajudar
sua mamãezinha, ou sua vovozinha, a fortalecer a menininha
para mais tarde ter condições de ganhar esta esmolinha de outra
forma.
Quem sabe na cama de algum outro benfeitor?

Anbia se levanta. Acende um cigarro. Olha para uma lata de lixo
cheia de papéis amassados, que se encontra perto da mesa. Num
acesso de raiva, dá um chute na lata de lixo, espalhando os papéis
amassados. Vai até a janela. Amassa o cigarro num cinzeiro. Volta à
mesa e continua a carta.

ANBIA ∙ V.O.

Quem é, desses distintos senhores, o responsável por crianças
serem jogadas no lixo? De onde vem essa pobreza? De onde vem
esse desespero que faz com que crianças sejam encontradas no
lixo? O responsável é o mesmo da esmola, é o mesmo dos bilhões
acumulados, é o mesmo que explora minha história desde antes
de eu nascer.
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