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COMPANHEIRA: Olha, amor! Eu não tenho propriedades para
falar dessas questões contigo. Historicamente, meu povo só nos
contou o que quis. Eu acho que você deveria parar de ter medo e
descobrir tudo a partir do seu olhar.
MAURO: Medo? Eu? Você está muito enganada. Eu não
quero é compromisso. Cresci ouvindo a minha avó dizer que
candomblé era coisa séria. Fique sabendo que meu avô foi um
dos fundadores do candomblé de Jeje* lá no Engenho Velho da
Federação.
COMPANHEIRA: Ah, tá! Falou o dono da ancestralidade. Risos!
MAURO: Rapaz... você não me leva a sério, né? Eu fui pesquisar
minha árvore genealógica. Tô lhe dizendo. Eu tenho raiz.
Ela pega o sabonete e começa a passa sobre o peito de Mauro.
COMPANHEIRA: Calma, filho de Ṣàngó! (risos). Agora eu
compreendo essa fúria e esse fogo dentro de você.
Mauro fecha o chuveiro e decide sair do banheiro.
MAURO: Já te falei que nem meu pai eu conheço.
Ela se coloca a sua frente impedindo que ele saia do banheiro.
Em seguida, começa a beijar o seu peito, acariciando-o e tocando em
suas partes íntimas.
COMPANHEIRA: Ei... (supiros) Eu só acho... eu só acho que você
deveria ir a essa festa. Esse seu sonho parece mais um sinal.
Pense bem.
MAURO: Não comece! Daqui a pouco ela acorda.
COMPANHEIRA: Ah, vamos, vai!
MAURO: Você topa ir comigo?
COMPANHEIRA: É claro! Você sempre soube que eu queria colocar
o meu pé no dendê. Só não coloquei ainda por sua causa.
O sabonete escorrega pele barriga de Mauro e os dois se beijam
intensamente. De repente, ouve-se uma voz aguda e intensa.
FILHA (OFF) Mamãe...! Papai...! Cadê vocês?!