197
CENA 18 ∙ MANGUE ∙ EXT ∙ DIA
As marisqueiras estão trabalhando. Severiana está calada, triste, mas
ouvindo tudo. Dona Detinha chega mais tarde, sem Duque.
O cachorro morreu envenenado.
HELENA: Benção, Dona Detinha.
DONA DETINHA: Meu pai abençoe.
ANA: Tá tudo bem? A senhora nunca atrasa.
DONA DETINHA: Duque fez a passagem.
Severiana escuta e tem uma crise de choro. Chora muito. Dona
Detinha consola a menina.
DONA DETINHA: Era a hora dele, tudo cessa, tudo acaba. Duque
viveu bem e até muito tempo. Eu sou de Ogun, cachorro não
vinga comigo, por isso que minha filha era a dona, mas a teimosa
comprou veneno de rato. Não pode ter chumbinho em casa com
cachorro e criança. Não chore, Severiana. Duque tá no Orun, no
céu dos cachorros.
Dona Detinha pega Severiana pela mão e vai pra beira da praia.
SEVERIANA (Inconsolada): Quero ir pro céu dos cachorros, eu
quero. Não quero ficar aqui. Quero ir com Duque.
DONA DETINHA: Nunca diga isso. O anjo da boca mole diz amém.
Bata na boca. Cê é uma criança, tem bom odu e bom ori, seu
caminho é bom e sua cabeça é boa. A maré tá de vazante, mas
ela enche. Entre no mar, peça agô a Yemanjá, faça assim ó.
Dona Detinha molha a mão no mar e passa na a testa e na nuca.
Severiana faz o mesmo.
DONA DETINHA:
Agô, Íyá Odoyá.
Yemanja mope. Yéyé awon eja mo pe.
Eniti nos agan di olomo mo pe.
Eniti nos talaka di olowo mo pe
Inu re ni Olokun ti jade