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INT ∙ BARZINHO FLOR DO PARAGUAÇU ∙ NOITE ∙
O DILEMA
Maya retorna à mesa de seus amigos.
CIDA: Se deu bem, hein.
MAYA: Você é maluca. Um menino desses.
CIDA: Um menino que faz menino!
MAYA: Eu tenho quase o dobro da idade dele. E é branco, Cida!
CIDA: E daí? Nêga, depois que as luzes se apagam, fica todo
mundo no escuro. E, no escuro, todos os gatos são pardos.
MAYA: Ele parece que está estudando a pessoa. Fiquei
desconfortável, desconcertada. Não gosto da posição de ser
objeto de estudo. Nada a ver esse cara branco, mauricinho,
novinho, tatuado, aventureiro - o oposto de tudo que eu gosto num
homem. Não é meu tipo. Até pela minha militância sempre admirei
e me relacionei com homens negros. E esse rapaz aqui jogando
charme para mais uma conquista com uma mulher exótica,
mulata boa de cama. Conheço esse tipo.
NONATO: Olha o racismo, Maya!
MAYA: Para! Não me venha com essa maluquice de racismo
reverso ou inverso!
CIDA: Aqui você veio se divertir. Deixa a militância em stand-by.
Pelo amor de Deus, amiga!
INT ∙ BARZINHO FLOR DO PARAGUAÇU ∙ NOITE ∙ VOZ E
VIOLÃO
Tinho canta. Pessoas conversam. Som de violão. A música que
ecoa no ambiente é Trem das Cores. Nonato, Maya e Cida param de
debater, e a galera também baixa o tom da conversa. Tinho dedilha
seu instrumento. Ele olha pra Maya enquanto canta. Tem aquele olhar
de desafio, de quem quer desbravar o ambiente desconhecido.
A galera aplaude.
TINHO, no microfone: Que as cores se misturem.