RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

Nossas histórias, nossas possibilidades


Dos filmes que ainda não fizemos é resultado do esforço coletivo de
algumas dezenas de pessoas dispostas a se debruçar sobre teorias
da narrativa, a discutir formas, suportes e, principalmente, a escre-
ver roteiros cinematográficos. Nessa publicação, compreendemos o
roteiro cinematográfico enquanto experiência de um leitor com um
texto, que foi pensado para o suporte livro. Cada uma das peças
traz sua própria especificidade formal e de estilo sem, no entanto,
esquivar-se de uma escrita transponível em imagens e sons através
de ações.


A defesa do roteiro enquanto peça literária não é consolidada nem
pacificada. Para muitos, o roteiro não passa de um texto técnico,
transitório e efêmero, feito apenas para ser filmado e acessado por
um número reduzido de leitores. No livro Exercice du Scénario, de
Jean-Claude Carrière e Pascal Bonitzer [publicado no Brasil pela
JSN Editora sob o título de Prática do Roteiro Cinematográfico], Car-
rière inicia sua parte da obra com uma emblemática e provocadora
frase atribuída a Raymond Chandler: “Se não existe a arte do roteiro,
deve-se isso em parte ao fato de que não existe um conjunto acessí-
vel de dados teóricos e práticos para sistematizá-la” (1996, p. 7). A
partir daí, Carrière nos lembra do fatídico destino da maioria desses
textos: a lata do lixo. É bastante comum, encerradas as filmagens,
que as lixeiras dos sets e estúdios transbordem de roteiros. Pou-
cos são os interessados em guardá-los, encaderná-los ou mesmo
colecioná-los.


Isso se deve em parte à visão utilitarista e meramente funcional
majoritariamente associada a esse gênero textual. Tal linha analítica,

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