RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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volteios. A caderneta e a caneta tecem reviravoltas enquanto a moça
mexe os lábios. Reproduz as nomenclaturas inusitadas das cores:
cor de azul de rabo de sereia; cor da tarde pegando fogo; cor de lua
deslizando nua; cor de pimenta e flor.

De repente, sua atenção é atraída para uma grande capa pendurada
em um gancho na prateleira. Uma peça muito bonita e simples,
composta de dois lados, com cores diferentes: vermelho escuro
e verde musgo. A feiticeira acaricia o tecido, aproxima-o do nariz,
sentindo-lhe o cheiro.

CENA 4 ∙ INTERNA ∙ DIA ∙ INTERIOR DO DEPARTAMENTO DAS VOZES
PERDIDAS

Do alto do balcão, surge a cabeça de um homem adornada por
um par de chifres. Esse acessório é o único indicativo da natureza
duvidosa daquele moço sério e tímido, usando óculos, com uma
prancheta em uma mão e, na outra, uma garrafa com um líquido
azul cor de noite estrelada. Do seu posto avançado de observação,
ele a vê ao mesmo tempo em que esconde sua presença através
do silêncio e das sombras. Logo se recompõe. Adota um ar sério,
anunciando sua presença.

DIABO DA PRANCHETA: Bom dia, senhorita. Em que posso
ajudá-la?

A feiticeira surpreende-se ao ouvir a voz lá do alto e volta para lá sua
atenção. Volta-se para o balcão. Seus olhos estão abertos. A boca
entreaberta provoca um atrito dos lábios e dos dentes com o ar. Do
seu lugar, assimila a aparência do estranho, olha seguidamente para
os chifres e para o que consegue ver da figura masculina.

Vendo-a de frente, o diabo permanece mudo enquanto ela se
aproxima. Tenta falar, mas sua voz soa desafinada. Tosse, aproxima
da boca a garrafa que traz à mão. Dentro dela, as estrelas giram. Ele
desiste no meio do caminho. Recompondo-se, finge ler algo em sua
prancheta enquanto fala:

DIABO DA PRANCHETA: Sou o demônio responsável pelo
Departamento das Vozes Perdidas. Meu nome é Diabo. Temos
pouco tempo, senhorita. Meu próximo atendimento é em minutos.
Aproxime-se, por favor.
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