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(Oficina dos Filmes) #1

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sílaba se aproxima em paisagem sonora ao movimento de repuxo
da onda. Aqui, foi o exato momento em que o Diabo percebeu que
estava perdido pela feiticeira.

DIABO DA PRANCHETA: Muito bem. Aguarde um instante
enquanto vou até meu inferior para que ele carimbe seu
documento. Já retorno.

CENA 6 ∙ INTERNA ∙ DIA ∙ O LADO DE DENTRO DO BALCÃO

O corpo do demônio aparece por inteiro, e é possível ver que sua
parte inferior se apoia em pernas mecânicas que se assemelham
às pernas de um bode. Agacha-se atrás do balcão. Leva os dedos
do bilhete até o nariz. Não satisfeito, leva o papelzinho à boca,
lambendo-o. Sua cauda eleva-se e sua ponta pulsa suave e
constantemente. Ela se aproxima do bilhete, gotejando um líquido
fresco sobre o papel, borrando a tinta que escorre formando finos
sulcos na superfície antes intata.

CENA 7 ∙ INTERNA ∙ DIA ∙ O LADO DE FORA DO BALCÃO

Iná leva à boca os dois dedos que tocaram o demônio, sentindo-lhes
o gosto. Inclina levemente a cabeça para trás enquanto os dedos
deslizam dos lábios para dentro da boca. Sua caderneta eleva-se,
abrindo suas folhas, mostrando, em forma de flip book, fogos de
artifício silenciosos estourando contra o céu da noite estrelada.

CENA 8 ∙ INTERNA ∙ DIA ∙ O LADO DE FORA DO BALCÃO

O Diabo reaparece com a prancheta em mãos, superando, em
estatura, a moça, fazendo-a recuar até uma das prateleiras das
vozes engarrafadas. Com isso, as cores se projetam no rosto dele.
Ao mesmo tempo, o demônio a observa destacada pela luminosidade
da prateleira que a ampara. Estende um braço na direção dela. A
feiticeira demonstra expectativa, mas não se move, somente aguarda.
O braço do Diabo não toca a moça; segue além, para um lugar acima
e atrás de Iná. O ato o faz se aproximar mais da bruxa. Olham-se
mais de perto.

DIABO DA PRANCHETA: Você gosta das cores, não é?

A voz dele perde o tom funcional, ganhando profundidade e calor. Iná
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