RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

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assente. Seu corpo reage com um arrepio ao ouvir a voz do tinhoso.

DIABO DA PRANCHETA: Sabe como elas são criadas?

Iná move negativamente os cabelos ao redor de si. Os fios formam
uma moldura leve e suspensa, roçando seu rosto vívido aqui e ali.

DIABO DA PRANCHETA: São vozes que adormecem desde sempre.
Só serão procuradas em um tempo muito futuro. Meu trabalho
aqui é guardá-las. Enquanto isso, elas vão produzindo as cores
daquela era.

Iná colhe cada palavra endiabrada proferida pela boca de arcanjo
torto. A tonalidade da voz dele refletia enlevo à visão da moça: olhos
ternos, riso incipiente.

DIABO DA PRANCHETA: Sua voz não está aqui. Temos que ir ao
Limbo, do outro lado da Barriguda. É uma caminhada rápida,
acompanhe-me, por favor.

Assumindo novamente o tom funcional, ele se afasta com a capa em
mãos. Gesticula e indica para que ela siga a sua frente. Iná aceita. A
moça obedece, mas antes furtivamente olha para a faixa de pele do
pulso dele ao se encaminhar para a porta.

CENA 9 ∙ EXTERNA ∙ DIA ∙ TRONCO DA BARRIGUDA

Já no chão, iniciam uma caminhada no mesmo lugar. Alternam
a duração, a intensidade, a velocidade e o sentido. Reproduzem
pequenos saltos como se estivessem em baixa gravidade.

Enquanto isso, no horizonte, estende-se uma curiosa geografia em
dois níveis: o primeiro, mais próximo do solo, é formado por morros
de topos achatados de diferentes extensões, serras, vales e planícies.
Essas formações rochosas emanam uma luz que se alteia em
diferentes tons e intensidades de azul mesclada às cores da vegetação
em cores mornas; árvores de muitas formas: altas, baixas, com galhos
altos, ou retorcidos. No nível superior, pairam translúcidas sombras
montanhosas de cumes pontudos cobertos de neve de montanhas em
formato de cordilheiras.

Concomitantemente, a árvore mágica inicia seu giro-carrossel. Sua
copa se inclina e eleva-se no movimento. Sacode as pequenas flores
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