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(Oficina dos Filmes) #1

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sobre os dois. Iná brinca com as pétalas enquanto o Demônio da
Prancheta atrasa os passos para vê-la sob as flores. Ao fundo, o tronco
também finaliza o giro, banhando-se na luz do poente, acobreando
as folhas rosadas da Barriguda. No horizonte, o Sol se esparge em
partículas de luz incandescente projetadas em vegetações retorcidas.

A luz também banha o cabelo da feiticeira, que atiça seus tons de
cobre, reluzindo-os.

O Diabo a tudo acompanha com o olhar. Ao fundo de ambos, está uma
porta em cima da qual há uma placa onde se lê “Limbo”. Mais para o
meio, há uma fechadura talhada no corpo da árvore.

CENA 10 ∙ EXTERNA ∙ DIA ∙ TRONCO DA BARRIGUDA

O Demônio da Prancheta se põe em frente a Iná. Mostra com um
gesto curto a porta.

DIABO DA PRANCHETA: Aqui chegamos, senhorita. Logo poderá
ter sua voz de volta para se casar com seu noivo.

Iná não transparece alegria ao ser lembrada do propósito de estar ali.

DIABO DA PRANCHETA: Trouxeste a chave?

Iná leva a mão até o cordão. Ergue-o delicadamente entre os dedos,
puxando-o. O atrito entre o fio e a pele atrai o olhar dilatado do
Diabo para o vale dos seios da bruxa. Ele acompanha com olhos
muito abertos e intensos a retirada da chave de dentro do segredo
perfumoso da moça. Sua cauda ricocheteia no ar, assumindo as
características de um ferrão erguido, apontando para ela do alto. Iná
recua com passos lentos, olha a cauda em suspensão. Não há medo
em seus olhos. Pelo contrário, estes refletem alegria, ora piscando,
ora se apertando para ver melhor. A feiticeira levanta a mão que
segura a chave em direção à ponta da cauda. Tenta tocá-la. O Diabo
diminui a distância entre ambos. Retira a chave das mãos da bruxa.
Evita tocar-lhe a pele.

DIABO DA PRANCHETA: Pra quem andou essa lonjura toda até
aqui só porque quer casar a senhorita agora não parece muito
aflita para conseguir sua recompensa.

Iná recua amuada diante da ofensiva. O Diabo aproxima-se da porta.
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