RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

80


Ela o acompanha. Para isso, ergue-se nas pontas dos pés para
enxergar por trás das costas do tinhoso, mas não tem muito sucesso.

CENA 11 ∙ EXTERNA ∙ DIA ∙ A PELEJA NA PORTA DO LIMBO

A chave, porém, não gira ao ser introduzida na fechadura da
Barriguda. O demônio tenta mais vezes até que desiste. Volta-se para
a moça.

DIABO DA PRANCHETA: Não abre. Sua chave não abre.

Iná indica-lhe por gestos afobados que tente novamente.

DIABO DA PRANCHETA: Não adianta, moça. Essa é realmente a
chave? Você não guardou a verdadeira em segurança?

A bruxa agarra a bolsa, outrora tão versátil, mas que, naquele
momento, roncava em paz. Sacode-a, mas não consegue abri-la.
Volta-se para o demônio. Tenta falar, mas não consegue. Então, o
moço da prancheta a convida a seguir à sua frente. Ela se recusa,
teima em ficar no mesmo lugar, com os braços cruzados. Os olhos do
diabo sorriem. Ainda assim, como funcionário eficaz, dá-lhe as costas
e caminha de volta.

A bruxinha, com a contrariedade estampada no rosto, não o segue.
Corre na direção contrária, prepara-se em seu lugar e dispara
veloz para a porta do Limbo. Usa o próprio corpo como aríete,
machucando-se no processo.

O barulho o faz voltar-se na direção do som. Ele a vê no chão ainda
zonza. Vai até ela. No chão, Iná se levanta, disfarça as lágrimas.
Tocado pelo esforço da feiticeira, oferece-lhe a mão para ajudá-la a
se levantar. Iná olha fixamente para a sua chave cujo cordão envolve
o pulso do demônio. Ela se mantém aparentemente dócil enquanto o
ouve.

DIABO DA PRANCHETA: Não faça isso, moça. A árvore sente, você
sente. Vamos comigo. É possível que consiga sua voz de volta.
Precisa preencher uns formulários. Demora só alguns meses.

Diz isso para apaziguar, mas seus gestos rápidos e curtos não são
de grande ajuda. Perdem-se em gestos estabanados. A cauda, a
caderneta e a caneta também não ajudam, pois estão se provocando
Free download pdf