Veja São Paulo - Edição 2643 (2019-07-17)

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14 Veja São Paulo 17 de julho, 2019


regulares, para alugar a quadra de tênis, por exemplo,
o custo é de cerca de 100 reais por hora. “Em nenhum
momento fomos chamados e não sabemos para onde
iremos depois que o espaço for fechado”, diz a apo-
sentada Denise Boschetti, de 60 anos, moradora da
Vila Buarque e aluna de cursos como alongamento,
pilates e ioga, todos oferecidos de graça pela prefei-
tura. Nessas aulas, a frequência não passa de trinta
alunos por dia, muito por causa da falta de professo-
res (são apenas sete, para doze modalidades). “Meu
filho fez aulas de tênis durante muitos anos. Agora
vão acabar com tudo”, ela lamenta.
Apesar do discurso, o centro esportivo costuma fi-
car às moscas mesmo em dias de calor. Diariamente,
a média é de 300 frequentadores. No dia 27 de junho,
uma quinta-feira de bastante sol, apenas treze pessoas
usavam a piscina aquecida à tarde. Na arquibancada
da quadra de tênis descoberta, duas jovens estendiam
suas esteiras para pegar um bronze. Questionado sobre
o fim das gratuidades do Pacaembu, o prefeito Bruno
Covas afirmou que a cidade deixará de gastar 315 mi-
lhões de reais e no mesmo período vai receber 87 mi-
lhões de reais com impostos gerados pela nova con-
cessão. “Prefiro usar esses recursos em Perus ou em
Cidade Tiradentes”, compara o tucano.
A queixa dos parcos frequentadores é reverberada
pela pequena mas barulhenta Associação Viva Pacaem-
bu. Criada há dezoito anos, recorreu à Justiça inúmeras
vezes. A última foi para tentar cancelar a concessão,
ainda sem sucesso. Mas não foi sempre assim. Desde
2005, quando a entidade obteve uma liminar que proíbe
espetáculos no estádio, o local deixou de ser palco de
grandes shows. Por lá já tocaram Rolling Stones, Iron
Maiden, Paul McCartney e Pearl Jam (o último, em
dezembro daquele mesmo ano). Com o fim das apre-
sentações musicais, as queixas dos vizinhos se concen-
traram em eventos que atraem muito público. Em junho,
quando o estádio recebeu 30 000 pessoas para a final da
Taça das Favelas, as ruas do entorno ficaram intransitá-
veis. “Os mais de 200 ônibus disponibilizados pela pre-
feitura inundaram as nossas ruas”, conta a aposentada
Cecilia Turazzi, moradora do bairro há sessenta anos.
Idealizadora e fundadora da Viva Pacaembu, a
também aposentada Iênides Benfati, de 73 anos, virou
uma espécie de pedra no sapato dos últimos gover-
nantes. Costumava manter em uma agenda o número
do celular de todos os prefeitos e chegou a receber
um deles em sua casa, para um café. Certa vez, quan-
do percebeu que um secretário não deu a devida aten-
ção para uma demanda geral do bairro, ela ligou para


FOTOS ALEXANDRE BATTIBUGLI

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