Olá, meu nome é Jean Mendonça. Sou pai do
Jeanderson, uma criança Autista de 11 anos
de idade. Deus me deu a missão de ser pai de
um anjo azul e me proporcionou a viagem
mais louca da minha vida.
Tantas viagens são planejadas, outras
acontecem de maneira inesperada. A minha é
vivida a cada novo dia. Minha viagem não
precisou de uso de droga, de acidente, nem
doença, eu precisei apenas de um laudo
positivo de TEA* (Transtorno de Espectro
Autista) para ser convidado para a maior
viagem de minha vida.
Sobre o título da coluna, eu quis mostrar que
ser pai de uma criança autista é uma viagem
inesperada e desafiadora, cheia de
obstáculos, dificuldades, surpresas e
emoções. Eu sinto coisas que jamais
conseguiria explicar com palavras. Meu filho
me ensinou muito, com ele eu aprendo todos
os dias, cresci como ser humano e me
fortaleci como homem. Aceitei e sigo a
jornada. Não importa aonde iremos, nunca
desistirei dele. Sei que a jornada vai ser árdua,
mas vamos em frente. Sei que encontraremos
muitos obstáculos, mas não desistiremos.
Vai ser difícil? Sim!
Vai ter surpresas? Sim!
Vai ser intenso? Claro que sim!
Com meu copiloto, eu vou frente, caindo,
levantando, aprendendo e – por que não? –
vencendo. Não importa o lugar de destino.
Como todas as lutas, vamos seguindo.
Sabemos que haverá dias escuros, de
dúvidas, dias de medo. Mas acredito que
haverá dias de sol, calmos e de luar.
Apesar das incertezas da viagem e
principalmente da instabilidade emocional do
meu copiloto, tento usar o que eu aprendi em
toda minha vida: Usar o tato, a inteligência, a
expertise, mas principalmente a sensibilidade
ao tratar e cuidar dele.
Preciso de ajuda? Sempre! Não sou uma ilha,
não vivemos isolados, e tudo que vier para
somar ou multiplicar, é bem-vindo. Não é um
diagnóstico que vai causar um moro
(desconheço o termo) com o mundo exterior.
Pelo contrário, isso ajudou a criar pontes,
pontes que nos levam a lugares
inimagináveis. Pontes que trazem
profissionais excelentes, pontes que levam a
medicamentos que são úteis em várias
situações. Pontes que ligam momentos e
unem pessoas.
No início, eu me preocupava sem saber aonde
eu iria chegar nem qual seria o resultado final
da viagem. Hoje eu me preocupo em curtir a
viagem, sorrir, gargalhar junto ao meu anjo
azul, aprender com ele e fazer valer a pena
cada dia dele e meu nessa viagem.
Sem saber o que virá pelo meio do percurso,
a viagem continua, cheia de capítulos e
situações vividas, guardadas, vencidas.
Pensei muito antes de embarcar, mas não
tinha como recusar, como ser indiferente a
esse fato. Aceitei a missão, e a viagem
começou no dia 27 de janeiro de 2010 e segue
pelo resto de minha vida.
Eu, como pai, quero o melhor para meu filho,
assim como todos os profissionais que em
algum ponto embarcaram nessa viagem. Sei
que os que estão a bordo também não sabem
o que veremos no caminho, porém tivemos o
início de tudo. Agora, no meio do percurso,
temos muitas surpresas. O tratamento
continua, a viagem continua e, a cada nova
parada, um desafio vencido, e a viagem segue
sem saber o que vai acontecer.
A minha viagem continua.
Jean Mendonça
Colunista