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(rafael.frois) #1
SOARES, K. C. P. C; DEBORTOLI, J. A; GRANDO, B. S. 43

com o rio, o mar, o sol, a chuva e o vento. Hutukara é
um corpo, um corpo que é unido, ela não pode ficar
separada (GOMES; KOPENAWA, 2015, p. 146).

Na civilização grega, os pré-socráticos questionaram a relação

com a natureza e no renascimento estes pensamentos gregos são
retomados com a ideia da natureza como máquina, com tentativas
de entendê-la para dominá-la, criando uma noção de superioridade
antropocêntrica homem-natureza e uma relação de exploração
desenfreada e sem consciência. Este processo acarretou uma perda
da noção de que fazemos parte da natureza. Mas, se somos parte

desta equação, é necessário, ou inevitável, estabelecermos diálogos
com outros modos de vidas, que configuram lutas sociais e políticas,
ainda que, sistematicamente, invisibilizados por uma experiência

social estruturada em uma perspectiva colonialista.
Talvez seja o caso de acolhermos o desafio de Stengers (2018,

p. 444), ao trazer o personagem conceitual, o idiota de Deleuze,
tomado de empréstimo de Dostoïevski, constrangendo-nos a
desacelerar e resistir: “à maneira como a situação é apresentada,
cujas urgências mobilizam o pensamento ou a ação. [...] Não porque
a apresentação seja falsa, não porque as urgências sejam mentirosas”,
mas porque há algo de mais importante.
Conhecer as práticas culturais do povo Akwẽ-Xerente, e afirmá-
la como patrimônio cultural, pode ter grande relevância e trazer
contribuições para diferentes áreas de estudo, provocando, mais do
que um olhar interdisciplinar acerca do conhecimento, uma crítica

a posturas extrativistas dos nossos estudos e metodologias. Damos
centralidade à noção de Patrimônio Cultural, na perspectiva apontada
por Machado e Dias (2009, p. 2), que concebem esta noção como:


[...] resultado de uma dialética entre o homem e seu
meio, entre a comunidade e seu território. Ele não é
apenas constituído pelos objetos do passado oficialmente
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