120 “DE LONGE TODA SERRA É AZUL!” ...
parece óbvia, mas o que tem resultado nas transformações ocorridas
nessa região tida como “ecológica” não é consequência apenas
do “boom” do turismo nas áreas de preservação ambiental, e
como popularmente ficou conhecida a região pelo Brasil a fora
e internacionalmente. Nem remete apenas ao imaginário de
que o Jalapão foi por muito tempo tratado como um local tido
como desértico, de vazio econômico, com quase sem nenhuma
interferência humana sobre o meio ambiente. Muito mais do que uma
sucessão de acontecimentos que transformaram o cerrado brasileiro,
podemos tomar essas transformações que envolveram o contexto
das políticas governamentais como um importante fator para refletir
sobre o espaço onde elas ocorreram e sobre suas diversas relações
conjunturais com as transformações ocorridas na região de cerrado e,
consequentemente, com os meios de vida da população que habita
o Jalapão.
Em nível de escala, é possível perceber como as transformações
globais foram guiadas e supervalorizadas pelo Estado e por organismos
internacionais para a (trans)formação local de uma região conhecida
como Jalapão. Isto é, do ponto de vista da temporalidade, esse peso da
história no presente e o processo de construção dessa historicidade,
seja numa sociedade ou mesmo nas trajetórias individuais de vida, se
alteram lentamente numa “longue durée”^5 (BRAUDEL, 1965), em que
se desenvolvem inúmeros processos socioeconômicos e políticos
dos quais, apresentaremos a seguir.
Essa ideia de uma região vazia e sem valor por conta das
dificuldades que se encontra para poder chegar e partir, se faz
presente em registros históricos desde a carta do antigo estado de
(^5) Longue durée: longa duração. É um conceito histórico criado pelo francês
Fernand Braudel para abordar acontecimentos históricos que transcorrem em
longa duração.