168 ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E RESISTÊNCIA: ...
movimentos sociais e que se encaixa em um espectro mais amplo
de um conjunto de famílias que são afetadas de alguma maneira pela
construção de uma Usina Hidrelétrica. Para a empresa responsável
pelo empreendimento, esta categoria se limita a um processo
indenizatório e de negociação que não está atrelada ao reconhecimento
da organização dos impactados enquanto um movimento social, mas
das famílias atingidas diretamente pela formação dos lagos artificiais,
sobretudo, aquelas contempladas no EIA/RIMA (Estudo de Impacto
Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental). É importante destacar
que as representações podem ser classificadas em três tipos, a saber:
hegemônicas, emancipadas e controversas (MOSCOVICI, 1988).
Notavelmente, as representações verificadas neste estudo estão
estabelecidas como “representações controversas”, pois são geradas
no decurso de um conflito ou controvérsia social, isto é, configuram a
construção de significados em torno da luta de grupos sociais opostos
(CABECINHAS, 2004).
No processo de transformação do estranho em familiar foi possível
perceber o aspecto central que foi conduzido pela reprodução midiática
do caso através de um artifício de “ancoragem” (MOSCOVICI, 2003)
que, neste estudo, foi representado pela “possibilidade de expulsão
das famílias do assentamento Ilha Verde”. Por isso, a “[...] ancoragem
possibilita que as pessoas possam se comunicar entre os grupos aos
quais pertencem sob critérios comuns, com a mesma linguagem.
Trata-se de uma relação direta com as funções de classificar, nomear
e ordenar o entorno em unidades significativas de compreensão”
(MOREIRA et al., 2015, p. 1164). Neste contexto, um fenômeno
muito mais simplório se constrói a partir da disputa pelo direito
de acesso à terra, isto é, dentro daquilo que consolida a dualidade
representativa do “certo” e “errado”, explicita e materializada pela
opinião pública.