TUPINAMBÁ, K. R; GONÇALVES, K. C; CHAVES, A. B 29
Neste contexto, com o passar do tempo, o Festejo acaba
perdendo força e acaba deixando de ser realizada em meados dos
anos 1980. Porém, em 2001 o festejo é retomado, pois Dona
Juscelina com mais idade e debilitada ganha o auxílio do quilombola
Manoel Filho (Fotografia 1), que ajuda a organizar e mobilizar a
comunidade novamente e nos anos posteriores o Festejo se torna
mais rico culturalmente, pois são inseridos novos elementos culturais,
além de um seminário para discussão política e cultural da identidade
e luta quilombola.
Neste sentido, Manoel Filho descreve a trajetória do Festejo ao
longo do tempo:
A festa era feita mais ou menos assim: às quatro da
manhã era feita a alvorada^7 , depois da alvorada às três
horas da tarde era feita a celebração religiosa^8 e depois
vai para o Teatro da Abolição^9 às quatro da tarde, depois
da apresentação do Teatro começava o cortejo afro com
os negros cantando e tocando tambores nas principais
avenidas da cidade. Esse formato da Festa aconteceu em
1968 com um grupinho pequeno, com algumas dezenas
de pessoas, dona Lucelina fez a festa mais vezes, mas no
(^7) O A alvorada é o momento em que os negros da comunidade saem cantando,
tocando tambor e dançando pelas ruas da cidade, ela retrata o tempo que os
negros tinham para se divertir quando ainda eram escravos.
(^8) Na comunidade existe a religião de matriz africana, a religião protestante e suas
ramificações e a religião católica, logo essa celebração religiosa é ecumênica.
(^9) O teatro é uma representação simbólica onde representa a assinatura da Lei
Áurea pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888.
(^10) Manoel Filho Borges e Lucelina Gomes dos Santos, atual que auxilia Dona
Juscelina na organização do Festejo da Abolição desde 1980, quando ela por
motivos de saúde ficou como principal mantenedora da tradição e seu Manoel
com a direção logística. Entrevistas cedidas a equipe do Inventário Patrimonial, em
novembro, 2020.