O Tempo e a Restinga - Time and Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

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Visão privilegiada das restingas

da região Norte Fluminense

O primeiro contato que tive com a restinga foi junto às praias da Barra e Grumarí,
frequentadas desde minha infância na cidade do Rio de Janeiro. Confesso que, mesmo
tendo me tornado Engenheiro Florestal, sempre vi a restinga como um ecossistema de
espécies repetitivas e de baixa diversidade. Porém, quis o destino traçar uma longa trilha
pelas restingas da região norte fl uminense.
A primeira vez que cheguei à restinga do Açu, em 2011, vim convidado por um
amigo que estava trabalhando no início dos estudos de implantação do Porto do Açu e
era responsável por montar um projeto de recomposição de restinga na região. Apesar
de já ter experiência com projetos de recomposição fl orestal e nunca ter trabalhado com
este ecossistema, estava sempre trocando idéias sobre este projeto e acabei aceitando
o convite para vir conhecer o local. Quando adentrei a Fazenda Caruara, que ainda não
havia se transformado em uma unidade de conservação, percebi que havia algo de
muito especial ali. O que mais me chamou a atenção foi a beleza ímpar das lagoas de
Iquipari e Grussaí, que conferem curvas sinuosas e atraentes a uma área que poucos
têm a oportunidade de vislumbrar.
A RPPN Fazenda Caruara se tornaria, em julho de 2012, a maior unidade de
conservação privada de restinga do Brasil. A casualidade da vida havia criado a
oportunidade de minha participação no nascimento dessa unidade de conservação, bem
como na construção de um Programa de Conservação e Preservação, no qual estão
sendo desenvolvidas técnicas de recuperação e manejo do ecossistema de restinga.
Uma das premissas deste grande projeto era a priorização na absorção de mão de
obra local, o que nos levou a realizar um trabalho etnobotânico, onde todo conhecimento
empírico sobre as espécies de restinga foi e está sendo transformado em conhecimento
científi co. Essa mão de obra, formada por moradores de Mato Escuro, Água Preta e Açu,
localidades de São João da Barra/RJ, traz consigo um conhecimento histórico da região
norte fl uminense, fundamental para a realização do trabalho. Na realidade, esta se tornou
minha grande função: a de lapidar todo o conhecimento bruto, regional sobre a restinga,
verdadeiro diamante, e torná-lo disponível a todos. Devemos traduzir a importância
desse ecossistema para que todos conheçam a necessidade de sua preservação e

para que haja o resgate cultural da relação
homem-restinga. Acredito que o respeito
às práticas do passado seja a melhor
maneira de investimento no futuro do
desenvolvimento da região.
A Fazenda Caruara quando
adquirida, no final do ano de 2006,
apresentava apenas 1/3 da área
antropizada por atividades agropastoris.
Contudo, 2/3 da proriedade permaneceram
intactos, havendo lugares em que o homem
ainda não havia pisado. Trabalhando aqui há
quatro anos, ainda não consegui conhecer
cada metro quadrado da propriedade
devido à sua grande extensão, com 4.235
hectares. Em 2014, o Serviço Florestal
Brasileiro (SFB), órgão do Ministério do
Meio Ambiente, realizou novo Inventário
Florestal Nacional e apontou, de forma
aleatória, três pontos para amostragem do
ecossistema de restinga na RPPN Fazenda
Caruara. O coordenador do inventário
comentou que havia planejado realizar os
levantamentos fl orísticos em apenas três
dias, mas o trabalho durou mais de uma
semana, evidenciando a integridade dos
fragmentos de restinga nos pontos de
estudo.
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