O Tempo e a Restinga - Time and Restinga

(Vicente Mussi-Dias) #1

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Há alguns dias, caminhando na orla de Copacabana, bairro do Rio de Janeiro,
onde resido atualmente, deparou-se-me um festival, organizado nas areias daquela
famosa praia. Dentre as atrações, chamou-me a atenção a beleza de algumas pipas,
de formato nada convencional para os nossos padrões, produzidas por um mestre no
assunto, residente em bairro distante na Zona Norte da cidade.
Uma delas tinha o formato de uma serpente, constituída de dezenas de pipas,
amarradas umas às outras por linhas, formando um conjunto com cerca de 30 m de
extensão, que ondulava graciosamente no ar, ao sabor do vento e dos movimentos da
mão de seu controlador.
Outra pipa tinha o formato de um hexágono, de grandes proporções. Na parte
inferior, com a função de estabilizar a pipa, havia uma espécie de painel retangular,
colorido, compondo um belo conjunto.
A cena remeteu-se ao passado, à minha infância, anos 1950-1960, no tempo
em que morávamos numa fazenda, localizada no Norte Fluminense. Nos meses de
fevereiro, íamos para Grussaí e a Restinga era meu universo. Ficávamos numa casa
construída pelos pais de nossa mãe Judith, da Família Silva Pinto, à beira da Restinga,
no que corresponde hoje ao trecho final da Av. Liberdade.
Naquele tempo, havia poucas casas próximas e ficávamos a cerca de 1 km do
núcleo urbano. A perspectiva, de nosso ponto, era de um descampado, árvores esparsas,
pitangueiras rasteiras, casuarinas aqui e acolá ...Um ambiente de praia mesclado com
fazenda, situado na extremidade da Planície Goitacá.
Passava horas ao ar livre, pele exposta ao vento nordeste e ao sol de verão,
naquele tempo em que Grussaí só era visitada por nós na estação mais quente. Grussaí
era banho de mar, passeios de charrete, pescarias, vento nordeste, marimbondos, cores,
sabores e aromas que só lá sentíamos e, para mim, soltar pipas, no espaço da Restinga!

Solitário soltador de pipas

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