VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - EDIÇÃO DE JUNHO - Nº 11

(MARINA MARINO) #1

mente e não ter a oportunidade de
realizaro desejoarraigadonaalmae
cumpriramissãoquecombinaracom
a mãe. Não poderia fraquejar agora,
talvez essa fosse a última, a única
chance.
Nodiaescolhido,umasegunda-
feira, reorganizou a bolsa, conferiu
tudo,separouumatrocaderoupaea
acondicionou numa pequena sacola
plástica. Colocou tudo sobre os
cobertores,noseuguarda-roupa.
Naqueledia,saboreouocaféda
manhã como nunca, passou os olhos
em cada um dos amigos, conversou
com muitos. Almoçou e jantou com
eles, numa alegria imensa. Já estava
comsaudadesantesmesmodepartir.
E não pretendia demorar nessa
viagem...Logoestariadevolta,esabia
que levaria uma bronca danada!
Passeou pelo jardim olhando
detalhadamente cada flor, que agora
erampoucas.Aliofrio tambémhavia
castigado.
Depois do jantar, voltou ao
quarto.Pegouumafolhadepapel,uma
caneta, e começou a desenhar umas
letras. Mal sabia escrever, estudara
muito pouco. Como elamesma dizia,
não escrevia, apenas desenhava
algumas letras.Acabou de escrevere
guardouafolhanabolsa.Nãoeraum
bilhete para a amiga de quarto.
Cumpririareligiosamenteoquehavia


esboçado em sua mente. Não diria
nadaaninguém.
Ficou sentada na cama,
esperando a chegada da parceira.
Quando ela entrou foi direto ao
banheiro.Voltoujádecamisola,pronta
paraentrarnascobertas.Eassimfez.
Domitilafezaoraçãodanoitecomela,
e em seguida entrou no banheiro.
Tomou um banho demorado, estava
imensamente feliz. Quando saiu, a
companheira já ressonava. Deixou a
porta do banheiro entreaberta para
clarear um pouco o quarto. Pegou a
melhor roupa, vestiu-se calmamente.
Agasalhou-sebem,colocandoatéuma
touca preta de lã. Escolheu um
cachecol bem longo, deu duas voltas
no pescoço. Calçou as grossas luvas,
meias de lã, e confortáveis sapatos.
Pronto. Estava preparada para partir.
Aguardava apenas as luzes serem
apagadaseosilêncioenvolvertudo.
Para esperar, sentou-se
novamente na cama. Com a pouca
claridade que passava pela fresta da
portadobanheiro,olhoucadadetalhe
do quarto. Quatro paredes que
acolheramoseusononosúltimosoito
anos.Tempobom...Olhavaaamigaque
dormia santamente. Companheira de
tantas orações, de tantas prosas, de
tantas risadas, de tantos dias bem
vividos.
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