VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - EDIÇÃO DE JUNHO - Nº 11

(MARINA MARINO) #1

E desta vez seguiu sem rumo,
novamente ziguezagueando entre os
túmulos. Tropeçava aqui, pisava em
falso ali, já não sentia os pés. O sol
estava a descer, e ela continuava a
busca. O encarregado do cemitério
haviaterminadooexpediente.Pensara
queDomitilativessedesistido,esefoi.
Além dela, não havia mais ninguém
porali.
Não tendo mais forças para
continuar, Domitila sentou-se na
estreita calçada de um túmulo.
Começou a chorar copiosamente.
Sentia-se doente, incapazde seguir a
caminhada,eextremamentedesolada.
Não encontrara o túmulo da irmã.
Voltouosolhosparaocéu,osolquase
sumiraporcompleto.Pensounamãe.
Olhouemfrente,edepoisdesviouos
olhos para o lado. Prestou atençãoà
lápide margeada pela calçada onde
estava sentada. Com muito esforço,
colocou-se de pé. Era um túmulo
pequeno, antigo, com uma pequena
elevaçãonacabeceiraeumburacono
centro. Percebeu que aquele buraco
nãoforafeitoemvão.Sim,alificavaa
cruzdemadeira.Certamentehaviase
desfeito com o tempo. Sentiu que
finalmentehaviaencontradootúmulo
dairmã.Echorou,choroucomonunca
haviachoradonavida.Chorougritado.
Nemsoubeporquantosminutos...


Estavaexaurida.
Domitila sentou-se novamente
ao lado do minúsculo túmulo,
debruçouocorposobreele,comoseo
abraçasse. Fechou os olhos e sentiu
umapazquehámuitonãosentia.Não
havia mais cansaço, nem dor, não
haviamaisagonia.Cumpriraamissão.
Comacabeçarecostadanafria
lápide, e com o rosto em brasa,
Domitila guardava no pensamento a
figuradamãe,dosamigosdoasilo,do
pai. De repente, o frio cessara, não
haviadesconforto,nemtosse,nemdor
no peito. Tudo ficara muito leve,
flutuava...
Na manhã, Domitila foi
encontrada.
Sem saber o que fazer, e
lembrandotodaahistóriacontadapor
ela, o coveiro conferiu a bolsa,
procurou pelos documentos.
Encontrou a folha de papel dobrada,
toda amassada. Abriu rapidamente o
papel e nele viu desenhado: QUERO
FICARAQUI.ESTEÉOMEULUGAR.
Eassimfoifeito.
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