Women's Health - Brasil - Edição 117 (2019-07)

(Antfer) #1

Q


Quando Alice Ojeda
pediu demissão de
seu bem-remunerado
emprego no setor
de marketing para
abrir seu próprio
clube de assinatura
eco-friendly, ela
mal podia esperar
para ser sua própria
chefe. Alice tinha
economizado
dinheiro em uma
conta destinada ao
novo negócio, tinha
uma rede de contatos
com os quais contar
e um plano de
negócios infalível.
Para celebrar a
novidade, uma amiga
comprou para ela um
caderno de presente


  • porque nada diz
    “novo começo”
    melhor que material
    de papelaria. “Era
    preto, com ‘Girl Boss’
    escrito em relevo
    com letras prateadas
    e brilhantes”, lembra
    ela. “Eu o achei
    divertido, até mesmo
    empoderador, e
    perfeito para encher
    de ideias.”


A jovem de 26 anos se
habituou rapidamente a
levá-lo às reuniões com
fundadores de outros
negócios sustentáveis com
quem esperava colaborar.
Mas, à medida que as
semanas passavam, ela
começou a sentir um certo...
desconforto. Não dirigida à
sua empresa, mas ao caderno
que ela estava usando para
suas anotações. “Peguei
gente olhando para ele
com expressões perplexas
e comecei a escondê-lo nas
reuniões. Depois passei a
me desculpar abertamente,
explicando que não havia
sido eu quem o comprara.”
Foi apenas uma questão de
tempo até o presente acabar
na lixeira de reciclagem.
“Girl boss” não é a única
frase bem-intencionada
que deixa um rastro claro
da geração millennial.
Elas estão na mesa do café,
felicitando sua companheira
por sua promoção – “Que
mulher empoderada!”. Elas
estão nos feeds de suas redes
sociais – recordes pessoais
etiquetados no Instagram
com #mulhermaravilha
ou fotos de uma mulher
trabalhando com uma
criança pequena ao seu
lado etiquetadas com
#mamãeempreendedora.
Respeitamos como esses
termos procuram enquadrar
as mulheres, a força e o poder
delas, mas será que já não
deveríamos ter começado
a ler as entrelinhas?
Ellen Kossek, professora
de administração dos
Estados Unidos, diz que sim.
“Nunca use o termo ‘menina’
no lugar de trabalho, por
exemplo. Meninas são
crianças; mulheres são
adultas”, ela explica. “Ao
usar a palavra ‘menina’,

você corre o risco de diminuir
a seriedade de papéis de alto
nível desempenhados por
mulheres.” A gente se refere
ao coletivo masculino no
trabalho como “os homens
do escritório”, ao mesmo
tempo que nos referimos a nós
mesmas como “as meninas
do escritório”, até mesmo
quando você vai mandar um
e-mail ou uma mensagem
no grupo de WhatsApp com
as colegas mais próximas,
qual vocativo você usa? “Oi,
meninas”, provavelmente.

PASSE ADIANTE
Como chegamos aqui?
“A linguagem evolui
constantemente”, diz Lucy
Jones, norte-americana
professora assistente de
sociolinguística. “Ela evolui
através da necessidade e se
estende através do contato.”
Você escuta uma coisa, a
repete, alguém a utiliza em
uma hashtag e, antes que
você se dê conta, está na capa
de um livro. Isso explica por
que por volta de 15 milhões
de posts estão etiquetados
com #girlboss no Instagram.
A frase em particular foi
popularizada em 2015 – e
depois se tornou até série no
Netflix – por Sophia Amoruso,
ex-CEO da empresa de roupas
norte-americana Nasty
Gal, em meio a uma onda de
corporações e marcas usando
uma linguagem destinada ao
empoderamento das mulheres.
Embora algumas pessoas
possam achar tags desse tipo
positivas, instigando que
mulheres ocupem lugares
previamente preenchidos
por homens, uma ponta de
ceticismo é advertida por
Daniel Harbour, professor de
ciência cognitiva da linguagem
da Queen Mary University
(Inglaterra). “A linguagem

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CARREIRA


Julho 2019 / WOMEN’S HEALTH 87


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