Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1

~i o a à ~enoa YuKio Misnima


Fim da linha


Obra crepuscular, encena, com humor negro,
os fantasmas do autor japonês sobre morte e suicídio

Um dos efeitos do capitalismo moderno é ter



fecundado a i deia de que tudo é transacionável.
O protagonista de Vida à Venda testa esta
premissa, transformando-a num teatro do
absurdo em que ecoam Kafka e Raymond
Chandler: Hanio Yamada, publicitário de 27 anos,
decide matar-se após ler, indiferente, o jornal de 29 de
novembro. Mas o gatilho para esse "capricho" funesto e
definitivo é a visão de uma repugnante barata em cima das
folhas caídas, que lhe suscita esta ideia tumular: "O mundo
reduz-se a isto e a nada mais do que isto." E Hanio
empreende os ritos fúnebres: compra sedativos, assiste
a uma sessão tripla de cinema, visita um bar de engate onde
a sua decisão suicidária desperta apenas o sorriso de uma
rapariga tola, apanha o "últ imo comboio da sua vida".
Despertará dorido e, como "não é possível t er dores de
cabeça no céu", percebe que a tentativa de suicídio falhou.
Renasce, então, anunciando a venda da sua ex istência e
esperando por clientes: um velho traído que desej a vingança
sobre a jovem que o trocou por outro, uma i dosa tentada
pelo " mo-nee" norte-americano, um ra paz co m uma mãe
vampira ... Em tudo reverbera a entrelinha existencial,
o trocadilho negro. Deitado na ca ma co m a volúvel Ruriko,
à espera de ser assassinado pelo novo amante dela, Hanio
prolonga a situação "com a perfeita consciência de que
o seu destino era morrer". E Hanio sobrevive, barata
metafórica. Ao co ntrário de Yukio Mishima ( 1925- 1970 ),
que, aqui, aborda tudo o que o fez suicidar-se: a queda do
Japão dos samurais, o fascínio pelo Ocidente, a sublimação
da morte. III Silvia Souto Cunha


VidaàVenda
(Livros do
Brasil,
216págs.,
C16,60)
é uma história
originalmente
publicada
na edição
japonesada
revista Playboy,
durante o ano
de1968,eum
dos últimos
livros do autor.
Mantém-se
sem rugas

Mixóroia o e Temáticas



  • ~érie looato


~icaroo Araújo rereira

Os problemas da nação são
sempre bicudos, e o que
vale é que há bons cidadãos
prontos a detetá-los. Como
é o caso do senhor Edmundo
Lobato que denunciou
nas ondas do éter um dos
"maiores escândalos de
abandonodaspopu~ções
do interior" que já se viu:
Ferreira de Palhais, uma
"vila tradicional que tinha
tudo" -a trindade do
maluco, do aleijado e do
bêbado - , mas perdeu este
último, com óbvios danos
para a economia local,
sobretudo no que respeita
às classes profissionais dos
médicos e dos mecânicos
de carros. Ou como o
senhor Amândio Lobato
que tem uma fórmula assaz
científica para salvar o País,
embora perturbadoramente
semelhante ao método
usado com chinchilas: a
"Ronaldicultura", isto é, o
fomentar da reprodução
populacional até à marca
de cem milhões de
habitantes para poder
contar com dez Cristianos
Ronaldos (um a cada dez
milhões, atual taxa que lhe
parece manifestamentre
insuficiente). Ou, ainda,
Firmino Lobato, o "Jedi
de Fafe", guardião da paz
que vigia os galinheiros
do universo próximo,
armado com um sabre de
·marmeleiro. Eis Mixórdia de
Temáticas -Série Lobato
(Tinta da China, 168 págs.,
€15,90), terceira antologia
dos guiões dos programas
radiofónicos com RAP, que
aguentam bem a sobrevida
em papel. III s.s.c.

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