Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1

1111 TRANSIÇÕES


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O jornalista e crítico
literário Carlos Câmara
Leme morreu na última
segunda-feira, aos 62 anos,
em Lisboa, após ter sido
sujeito a uma intervenção
médica. Segundo fonte
familiar citada pelo Público,
o jornalista tinha sido
internado de urgência, na
terça-feira anterior, no
Hospital de São José, em
Lisboa, na sequência de uma
hemorragia. Nascido em
Lisboa, em 4 de fevereiro
de 1957, licenciou-se em
Filosofia e iniciou a carreira
de jornalista em 1985 no
Jornal de Letras, Artes
e Ideias (JL). Em 1990 ,
integrou a equipa fundadora
do Público. Colaborou
ainda com as revistas
Ler e Colóquio/ Letras,
da Fundação Calouste
Gulbenkian. E foi autor do
livro Os Passos em Volta
dos Tempos de Eduardo
Lourenço, editado pela
Verbo em 2014.

Venceu vários prémios
durante a sua carreira de
jornalista e ocupou cargos
importantes no jornal The
New York Times durante
décadas. Mitchel R.
Levitas morreu no último
sábado, 22 , em sua casa
em New Marlborough,
Massachusetts, aos 89 anos.
De acordo com o seu filho
Daniel, a causa da morte
foi a doença de Alzheimer
complicada por uma
pneumonia.

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O músico português André
Barros foi distinguido pelos
prémios internacionais
lndependent f\1usic Awards
como autor da melhor
canção usada em filme/TV/
jogo, pela composição Ledo.
A 17ª edição desta cerimónia,
decorreu no último sábado,
22 , em Nova Iorque, Estados
Unidos da América.

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MANUEL HOMEM DE MELLO 1930-2019

Aristocrata sensato


Conde de Águeda, tentou mudar por dentro o regime do Estado Novo,
defendendo uma solução pacífica para a Guerra do Ultramar

Era preciso ter coragem, até física,
para afrontar Salazar. Manuel José
Homem de Mello fê-lo, e logo numa
tentativa de golpe palaciano para
afastar o ditador do poder. Em abril de
1961 , colocou todo o seu peso político
e aristocrata (era conde de Águeda,
cidade onde nasceu) ao lado do então
ministro da Defesa, general Júlio
Botelho Moniz, que ousou comunicar
ao à época Presidente da República,
almirante Américo Tomás, que as
Forças Armadas queriam Salazar
demitido de Chefe do Governo. O
ditador foi logo avisado por Tomás


  • e, à espera de uma resposta do
    Presidente da República, Botelho
    Moniz tomou a insólita decisão de se
    retirar para umas curtas férias. Fatal.
    Mas Homem de Mello, que perdeu
    o seu lugar de deputado na Assembleia
    Nacional de partido único salazarista
    (tinha aí assento desde 1957), voltou
    à carga, apesar do falhado golpe
    palaciano. Em 1962 , numa edição
    de autor, arriscou publicar o livro
    Portugal, o Ultramar e o Futuro,


em que defendia, firmemente, a
descolonização - embora hoje a sua
proposta talvez fosse vista como
"neocolonialista". Na altura, porém,
colocava frontalmente em causa
a política ultramarina do regime
salazarista. "Reduzir os territórios
imensos de Angola e Moçambique a
província, no mesmo sentido em que
o tomamos em Trás-os-Montes e nas
Beiras, desafia a realidade e revela um
princípio e uma orientação política
inaceitáveis para o mundo em que
vivemos", atreveu-se a escrever e a
publicitar. Falecido no último dia 18 ,
aos 88 anos, o político, advogado e
empresário reeditou em 2009 aquela
obra. Na sessão de lançamento,
manteve-se coerente - ele que, no
governo de Marcelo Caetano, sucessor
de Salazar, voltou a ser deputado e
integrou delegações a assembleias
gerais da ONU: lamentou que Portugal
nunca tivesse pedido desculpa às
antigas colónias pela escolha da via
militar, em lugar de uma solução
política pacífica. J. Plácido Júnior
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