Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1
MARIA DO CÉU
GONÇALVES
49 ANOS

PROPRIEDADE
Quinta da Pacheca

PRODUÇÃO
Além do hotel e do
restaurante, a quinta,
com os seus 69
hectares, dá quase 200
mil litros de vinho OOC
e 100 mil de Porto.
Agora também fazem
azeite.


CURIOSIDADE
"Nos aviões consigo
pensar melhor
e escrever sem
que ninguém me
interrompa. Lá no
ar é onde tomo boas
decisões."


40 VISÃO 27 JUNHO 2019


DE FRANÇA, COM AMOR


Fala com sotaque típico de emigrante e gere a Quinta da Pacheca
com o dinamismo característico de quem anda lá fora a lutar pela vida

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pesar de ter nascido em Vila Real, Ma-
ria do Céu Gonçalves só tem memórias
da sua infância em França, para onde
emigrou com os pais, com apenas 2
anos. Foi lá que se formou em Economia e criou
uma empresa que explora o mercado da saudade.
A Quinta da Pacheca era apenas uma das muitas
marcas que representava, quando começou a ter
problemas financeiros e a não ter capacidade para
exportar os produtos de que Maria do Céu preci-
sava em França, estávamos em 2011. A empresária
deslocou-se então ao Douro, para perceber o que
realmente se passava com os seus clientes. Encon-
trou uma quinta maravilhosa, "um diamante que
não estava polido". Não foram precisas mais de
três semanas para chegar a acordo com os antigos
donos, a família de José Serpa Pimentel. Atirou-se
ao negócio sem pensar muito no facto de não ter
qualquer conhecimento de agricultura, coisa que
resolveu deixando, durante um ano, 25 % nas mãos
dos antigos proprietários e mantendo Maria Serpa
Pimentel como enóloga, e o seu irmão, José, como
comercial responsável pelo mercado português.
Teresa, a matriarca da fami1ia, continua a viver
numa elegante casa, na quinta.
A vida de Maria do Céu, está bom de ver,
nunca mais foi a mesma. Passou a viver entre cá

e Orleães, num constante vaivém de aviões, e a
debruçar-se sobre o tema da viticultura. Ouviu os
ensinamentos de quem sabia da poda, leu muitos
livros, consultou a internet. "Entrei de alma e
coração. Ao fim de dois anos,já me sentia à von-
tade para ser comandante deste barco", assume,
sentada na mesa do restaurante de onde saem
pratos típicos da região. Nos primeiros tempos,
exportavam essencialmente para França, que era
o porto mais seguro. Mas enquanto empresária,
o maior desafio foi abrir- se ao resto do mundo e
conquistar o mercado nacional. Hoje, as expor-
tações representam apenas 40 % da faturação,
que chega aos oito milhões de euros. E de cinco
empregados (três da família), a quinta passou a
dar trabalho a 85 pessoas. O processo foi lento,
mas eficaz. Primeiro, tratou- se do restyling, de-
pois contrataram-se dois enólogos e investiu- se
em maquinaria. Houve um dia, numa das suas
muitas viagens aéreas, em que se lembrou de
criar dez suítes de luxo, dentro de barricas. Qua-
tro anos mais tarde, a ideia tornou-se realidade
e tem sido um sucesso. Mas nem por isso Maria
do Céu sossega - as obras continuam, para se
construírem mais 24 quartos de hotel, ampliar a
piscina e fazer um spa. Porque não é só o vinho
que mantém uma quinta ativa.
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