Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1
CATARINA
ALBUQUERQUE
PIZARRO DE CASTRO
47 ANOS

PROPRIEDADE
Quinta de Lubazim

PRODUÇÃO
A propriedade tem
110 hectares e de lá
saem ôs vinhos tinto
de reserva Quinta
de Lubazim e os
Lupucinus. Também se
dedica ao azeite extra
virgem.

MOTE
"Sou de uma geração
em que tudo começou
a mudar. Levo as
coisas muito na
brincadeira e dou-
me bem com toda a
gente." ~

42 VISÃO 27 JUNHO 2019


A MULHER DOS PRÉMIOS


O néctar que sai das suas vinhas é tão bom que ganha todos
os concursos. A culpa está na forma como o posicionou no mercado

111


avô, que sempre esteve ligado aos
vinhos do Dão, volta e meia lem-
brava-lhe de que a agricultura era
a arte de empobrecer alegremente.
Enquanto pequena, não percebia bem o que
aquilo queria dizer, mas foi entendendo ao longo
do seu percurso, que começou por nada ter que
ver com a terra. Catarina estudou Relações In-
ternacionais, estagiou na Venezuela e trabalhou
na Fundação Ricardo Espírito Santo. Mas sabia
que um dia acabaria no Douro, porque sempre
sentiu esse apelo, essa ligação ao campo. Ajudou
o facto de se ter casado com um duriense, pro-
prietário de uma quinta com vinhas velhas, no
Douro Superior, que já está na família de Castro
há 23 gerações e mais de 700 anos, e que precisa-
va de quem realmente agarrasse no negócio. "As
senhoras nem iam às quintas. Quando comecei a
fazê-lo, ainda era mal visto", conta, queixando-se
do meio muito tradicional que encontrou.
Indiferente a esses entraves, Catarina meteu na
cabeça que haveria de explorar todo o potencial
da quinta. Conheceu as pessoas certas e lançou-
-se na parte comercial, em 2005 , depois de um
curso de Jovem Agricultor. Pôs tudo em cima
da mesa: o que era preciso fazer, que dinheiro
tinham para gastar, quanto custavam as infraes-
truturas para dar gás à quinta ... Acabou a gastar
meio milhão de euros a reconverter mais de 20

hectares para produzir um vinho de perfil supe-
rior e indiscutivelmente bom. Uma novidade no
Douro daquela época, pois o vinho de mesa era
apenas para os caseiros e nem se encontravam
enólogos nas quintas, porque não são precisos
para o vinho do Porto.
De início, conseguiram ter cinco mil garrafas,
agora orgulham-se muito das 42 mil que eti-
quetaram no ano passado. Também vendem
uvas para vinho do Porto, mas não o produzem.
Reconhecimentos, já nem os conta-era conhe-
cida no meio como a "papa-prémios". "Deixámos
de ir a concursos. Prefiro guardar esse dinheiro
para o marketing."
Catarina também integra, há quatro anos, o
Conselho Interprofissional da Casa do Douro,
a convite do seu presidente, António Lencas-
tre. Com ela, sentam-se mais três mulheres a
representarem os agricultores, coisa bastante
inovadora para esta federação centenária. E há
sete meses que é responsável pelo marketing da
Porto Réccua, outra empresa da região, embora
continue gestora da quinta da família, que há de
deixar às suas duas filhas. Por agora, preferiu es-
tar mais afastada do negócio, para não desgastar
as relações, que são ótimas. "Tenho de deixar os
outros irem ao mercado, o que é tão difícil", jus-
tifica, com a notória pouca convicção de quem
não consegue realmente desligar a ficha.
Free download pdf