Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1

falar, até hoje. Mas é para o lado que
durmo melhor. De cada vez que uma
pessoa de extrema-direita me vira a
cara, eu sinto-me honrado. Quando
me lembro de que em 1974-75 havia
quem me chamasse fascista, dá-me
uma certa vontade de rir ... E faz-me
ficar satisfeito de cada vez que um
fascista corta relações comigo!
Revela que foi de novo convidado
para voltar a candidatar-se, por
dois primeiros-ministros. Por Du-
rão Barroso, contra Jorge Sampaio,
em 2001 , e por José Sócrate~ (antes
de Manuel Alegre ou Mário Soares
pretenderem avançar) em 2006 ,
contra Cavaco Süva. ..
Fui convidado por cinco primeiros-
-ministros: Sá Carneiro, Pinto Balse-
mão (que mandou dizer pelo Expres-
so .. .) e Cavaco Silva também o fizeram.
Viu sempre o caminho tapado?
Não queria arriscar uma segunda
derrota presidencial?
Não queria ter uma segunda derrota,
de facto. O último e mais inesperado
convite foi o do eng. Sócrates. Mas,
contra Cavaco, que faria o pleno da
direita, eu nunca faria o pleno da
esquerda. E não queria candidatar-me
contra o prof. Cavaco. Se, em 2006 ,
o candidato do PSD tivesse sido uma
figura como o dr. Santana Lopes,
nesse caso, eu provavelmente teria
avançado ...
Numa análise retrospetiva, o que
teria feito de substancialmente di-
ferente, relativamente às presidên-
cias de Jorge Sampaio e de Cavaco
Süva?
Tirando o caso especial do prof. Mar-
celo Rebelo de Sousa, que inventou
um estilo ...
... E que se tem revelado um verda-
deiro centrista. ..
... Eu acho que sim, mas não me atrevo
a dizê-lo. Mantém boas relações com
os partidos à direita, mas não cria
dificuldades ao Governo. Bem, cada
pessoa tem o seu estilo. No caso do
relacionamento com~s partidos, a
minha ideia era a de ter um bom rela-
cionamento com todos os partidos, o
que me colocaria mais próximo do dr.
Jorge Sampaio do que do general Ra-
malho Eanes ou do prof. Cavaco Silva.
Não está a incluir aí o dr. Mário
Soares ...
Não estou a incluir, porque o dr.
Soares era o dr. Soares ... Não é imitá-
vel ou repetível... Mas, do ponto
de vista da minha relação com o País,
podia ter sido diferente de todos eles


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(pondo aqui de lado o prof. Marcelo).
Eu seria um Presidente mais explica-
tivo. Aprendi uma coisa com Giscard
d'Estaign, político francês que muito
admirava: "Hoje em dia, não basta
exercer a autoridade - é preciso que
ela seja explicada."
Portanto, é preciso explicar sempre ...
Sim, veja o que se passou no braço
de ferro com os professores: ao fim
de dois anos, o Governo, finalmente,
disse que não havia dinheiro! E andou
ali a simular uma negociação!
E essa obrigação de explicar é ex-
tensível ao Presidente ...
Sim. Sem que isto represente qual-
quer crítica, pelo respeito que tenho
por todos eles, mas se há um traço
comum aos que precederam Marcelo
é o de que todos explicavam de me-
nos. Nunca vi um PR dizer porque ia
visitar o país A ou B nem, à chegada,
contar que resultados obteve dessa
viagem. Devia haver mais entrevis-
tas: um PR devia dar quatro ou cinco
entrevistas por ano!
Sá Carneiro teria sido Presidente
da República, ou não o imagina
com esse perfil?
Foi um assunto muito discutido entre
nós, quando ele quis que eu fosse
candidato da AD. Eu devolvi-lhe
a qu estão, ele é que era o líder do
maior partido da coligação. Mas ele
confessou-me que não se via como
Presidente, porque do que gostava
era da ação execu tiva, da dinâmica
da discussão política parlamentar, da
luta política quotidiana. Não se via
como Presidente. E depois, tinha por
resolver a sua situação familiar, pelo
menos, até conseguir obter o divórcio.
E acha que ele estaria neste PSD,
se fosse vivo? Ou teria feito um
percurso parecido com o seu (que
até foi ministro independente num
governo do PS)?
Sá Carneiro não estaria no PSD de
Passos Coelho. Não sei se teria saído
antes, mas no de Passos Coelho nem

''


pensar. Nunca concordaria com o
abandono de preocupações sociais,
porque ele era um verdadeiro social-


  • democrata. Mas, creio eu , também
    nunca se teria aproximado do PS.
    O que haveria, talvez, era oura coisa.
    Um dia, a este propósito, chegou a
    abrir- se comigo, mas depois preferiu
    deixar para mais tarde - e não chegou
    a haver segunda conversa. Disse-me
    que, se perdêssemos aquelas elei-
    ções presidenciais de 1980 , a que já
    não assistiu, retirar- se- ia da política,
    compraria uma quinta no Algarve
    e dedicar- se-ia à agricultura!
    A sério?!
    É verdade. E eu disse- lhe: "Ó Fran-
    cisco, mas com a sua idade, 40 e tal
    anos ... " E ele completou a ideia: "Um
    dia volto e, se não me identificar com
    o meu partido, eu faço um partido
    novo!" E, se calhar, teria sido mais
    esse o percurso dele ...
    O senhor, neste volume, j ustifica
    a sua aceitação de participar no
    primeiro governo Sócrates, mas
    recusa pronunciar- se sobre o pro-
    cesso Marquês. Não tem uma opi-


·Na primeira fase do gouemp.


Sócrates, ou~i gente do PSI!


a iJizer que de um tipo assim


é que precisavam no P-artido

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