Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1
em outubro do ano passado, até lhe tirei
uma fotografia", ri-se.
Sempre que uma peça é produzida,
a QMX envia-lhe um exemplar. O por-
tuguês desenhou mais de 100 e sabe
que nem tudo sai como planeado. É
importante ver como a escultura foi feita
em fábrica, perceber o que correu bem
e o que poderia ter corrido melhor.
No fundo, fecha- se um ciclo.

UM SALTO NO ESCURO
Olhando para trás, diz que tem tido
"a sorte" de trabalhar em personagens
muito icónicas, com uma base de fãs
tão grande que chegam a ser produ-
zidas SOO mil unidades de algumas
figuras. Quando se avança para uma
edição limitada, a reação também pode
ser exacerbada. Está a ser esse o caso
da peça The Batman FamiJy, que vai
custar quase 200 dólares (cerca de 175
euros) ejá se tornou um best-seller,
embora ainda em pré-venda. Na con-


PERSONAGENS MARCANTES

Rocket
Raccoon
Do filme

Catwoman
Uma das
preferidas
da mulher

Loki
Do filme

Mulher·
·Maravilha
Da DC
Comics

ta de Instagram @zeoyn, a fotografia
dessa escultura foi a que até hoje mais
coraçõezinhos recebeu. Não é por
acaso que também ele adora este Bat-
man e família. "Como tem 40 centí-
metros, podemos fazer mais detalhes",
justifica. ..
Aos 45 anos, os últimos dez como
freelancer, José Alves da Silva olha para
trás e diz que deveria ter ido para Be-
las-Artes, mesmo sob a ameaça velada
"vais morrer de fome ... ". Filho de mé-
dicos, tornou-se arquiteto mas nunca
assinou um projeto. Mal se licenciou,
avançou, com amigos, com uma em-
presa de visualização de arquitetura em
3D. Simulavam o projeto em computa-
dor - uma alternativa à maqueta, com
a vantagem de se poder "entrar" nela.
Quanto mais a empresa crescia,
menos ele punha a mão nà massa.
"A certa altura, já só trabalhava com o
Excel, o Word e o telefone." O horror.
Fazia-lhe tanta falta a parte criativa que
nos tempos livres, geralmente à noite e
em casa, experimentava fazer também
personagens em 3D. Ia partilhando o
resultado na internet e ganhando al-
guns prémios, mas os holofotes só se
viraram a sério na sua direção quando
ficou em primeiro lugar num impor-
tante concurso online. Estávamos em
2009, e pouco depois decidia dar um
"salto de fé" que só não era um salto
no escuro porque se apercebera de que
havia trabalho na área, dentro e fora
de Portugal.
De início, pediam- lhe sobretudo
personagens para publicidade e jogos
de computador. Até que um dia foi
contactado por um tal de Bob Steiner,
que tinha uma impressora 3D e queria
testá-la com bonecos seus. E quando a
Maker Bot, a empresa nº 1 de impres-
soras 3D caseiras, contratou Steiner,
o português esteve oito meses a dese-
nhar figuras que desafiavam as má-
quinas.
O convite da QMX surgiu porque
continuou sempre a colocar os seus
trabalhos online, numa altura em que a
indústria estava em transição, da escul-
tura tradicional, à mão, para a digital.
Cinco anos depois, acredita que encon-
trou o sítio onde quer estar no futuro
próximo. Diz que continua inspirado
nos velhos mestres como Rodin, Gustav
Klimt, Ingres. É um espanto tudo o que
conseguiam fazer sem Ctrl-Z. Ao pé
deles, José Alves da Silva não se acha
um super-herói. • ,. [email protected]

27 JUNHO 2019 VISAO 69
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