Jornal de Letras, Artes e Ideias

(claudioch) #1

2· educação


A importância de Bolonha
deriva de ter abordado algumas das
questões fundamentais com que
se confrontavam os sistemas de
ensino superior no espaço europeu
designadamente:
I) A difícil comparabilidade dos
sistemas em termos de graus e
diplomas existentes em cada um
dospaises;
II) A pouco clara distinção entre o ci-
elo graduado e o ciclo pós- graduado;
III) A importância da generalização
dos sistemas de créditos, nomea-
damente o ECTS, para a mobilidade
de estudantes;
IV)A promoção dá mobilidade de
estudantes, professores, investiga-
dores e pessoal não docente;
V) A cooperação europeia na
garantia da qualidade do ensino
ministrado e da investigação cien-
tíflca; e ainda
Vl) O desenvolvimento da necessá-
ria dimensão europeia nos curri-
cula, na cooperação institucional,
na mobilidade e na integração de
programas de estudo e investigação.
Passados 20 anos sobre a assi-
natura da Declaração de Bolonha,
podemos verificar que a maioria
dos paises que a subscreveram fez
grandes progressos na generali-


dade dos 'domínios incluídos nos
objetivos definidos em 1999 e que o
Espaço Europeu de Ensino Superior
(EEES) inclui hoje 48 paises, abar-
cando todos os Estados soberanos
da Europa, com a exceção do
Mónaco e de San Marino, e estados
fronteiriços, como a Arménia, o
Azerbaijão e a Geórgia.
Acresce ainda que quer ao nível
da Comissão Europeia, quer no
ânlbito das organizações que na
Europa desempenham um papel na
cooperação entre instituições de en-
sino superior, se têm desenvolvido
inúmeros projetos e iniciativas que
muito têm contribuído para a con-
solidação do EEES e para a capaci-
dade da Europa competir no mundo
globalizado do conhecimento, da
ciência e das formações avançadas
de recursos humanos qualificados.
As conferências de ministros
responsáveis pelo ensino superi-
or são momentos de balanço dos
desenvolvimentos realizados e de
orientações para os anos seguintes.
A conferência de 2009, realizadà
em Leuven e Louvain-la-Neuve,
fez o balanço de dez anos e definiu
prioridades para 2020: a equidade
no acesso e sucesso dos estudantes;
a aprendizagem ao longo da vida; a

empregabilidade; a aprendizagem
centrada nos estudantes; a ligação
entre educação, investigação e
inovação; a abertura internacional
e o desenvolvimento sustentável
global; a mobilidade; a melhoria da
informação sobre as instituições de
ensino superior; e o financiamento.
Também em Portugal se fez o
balanço de dez anos da aplicação
do Processo em Portugal, numa
conferência realizada na Fundação
Calouste Gulbenkian em 2009. O
relatório apresentado dava conta
de desenvolvimentos no senti-
do dos objetivos da Declaração,
o empenho da generalidade das

''


Temos de olhar para
a Declaração não
como um elemento
do passado, mas como
parte de um processo
em permanente
evolução e como
um incentivo

jomaideletros.pt • 19 de junho a 2 de julho de 2019 / JL


instituições de ensino superior
em acompanhar o Processo, mas
interpretações diversas quanto aos
se\lS objetivos e métodos.
Ao longo dos anos, de conferên-
cia de ministros em conferência de
ministros, os objetivos foram sendo
renovados e aprofundados, trans-
formando a Declaração de Bolonha
no Processo de Bolonha e este no
Espaço Europeu de Ensino Superior.
O plano de ação até 2020, resultan-
te da conferência de ministros de
maio de 2018, inclui áreas como: a
dimensão social do ensino superior,
visando reforçar o acesso ao ensino
superior de grupos sub-represen-
tados e vulneráveis; a cooperação
nas práticas de ensino e aprendi-
zagem, reforçando a digitalização
e flexibilidade curriculàr; o diálogo
global, envolvendo países terceiros; e
a interação com o Espaço Europeu de
Investigação.
Para além destas áreas, foram
criados três grupos temáticos
visando reforçar a cooperação e
a aprendizagem mútua em temas
centrais ao EEES: os quadros de
qualificações, c.uja compatibilidade
promove a comparabilidade; a ado-
ção da Convenção de Lisboa sobre
o reconhecimento de qualificações

relativas ao ensino superior, adota-
da em 1997 em Lisboa; a garantia da
qualidade, pedra basilar da confian-
ça mútua dos graus e diplomas.
Se muito se evoluiu desde 1999,
a realidade é que, à medida que se
aprofunda a cooperação e novos
estàdos se foram juntando ao EEES,
sendo o mais recente a Bielorrússia
em 2015, os desafios políticos são
renovados.
Chegados a 2019, temos de olhar
para a Declaração de 1999 não como
um elemento do passado, mas como
parte de um processo em perma-
nente evolução e como um incentivo
para continuar, ao nível de cada pais
e de cada instituição de ensino supe-
rior, um trabalho de reflexão e de in-
trodução das reformas e das medidas
que permitam desenvolver, atualizar
e aperfeiçoar o papel e a ação das
instituições de ensino superior.
Estamos hoje bem seguros do
orgulho em termos sido um dos
subscritores da Declaração de
Bolonha e um dos que participa-
ram ativamente nos trabalhos de
elaboração de um documento que
não só é uma referência histórica
do ensino superior na Europa como
foi o ponto de partida para uma
ampla cooperação política .• n.

Os finalistas do Global Teacher Prize


\

Na última edição demos larga notícia da 3ª edição portuguesa do Global Teacher Prize, chamado o "Nobel do ensino",


cujo objetivo é evidenciar a i1nportância dos professores e distinguir os que se destacam por boas e inovadoras práticas.


A nível nacional o prémio é de 30 mil euros e participação no concurso internacional, 'dotado' com um milhão de


dólares (893 mil euros). Em·Portugal, como dissemos, houve cerca de 200 candidaturas, entre as quais o júri escolheu


dez finalistas, a quem o JL/Educação pediu textos/testemunhos sobre o seu trabalho e os seus projetas. Naquela edição


publicamos o do vencedor, Rui Correia, sobre a sua conceção de ensino e de ensinar, bem assim os de mais cinco


finalistas: Ana Mafalda Lapa, Angelizabel Freitas, David Ferreir~, Inês Rodrigues e Vitor Gonçalves. Agora, e como


anunciado, damos a lume mais as quatro que, por falta de espaço, não pudemos incluir antes


José c;alvão


Audições interactivas


t i Triângulo amoroso Foi a paixão
pela música que me trouxe até
aqui... Sou músico desde que me
lembro e professor desde que
tomei consciência do que era
ensinar.
O meu projeto nasceu há
muitos anos, quando me aper-
cebi de que se aprendia muito
mais quando tocávamos/pra-
ticávamos e· fazíamos música
(de preferência em conjunto)
do que quando me sentava
sozinho a estudar os manuais

infinitos repletos de informa-
ção escrita.
A ideia só se materializou no
ânlbito do meu mestrado, na minha
tese intitulada: "Os alunos como
músicos". No fundo eu queria
validar as vantagens de se aprender
música como se aprende uma lín-
gua materna: Ouvir (ouvir I sentir);
Interpretar (compreender I falar
por imitação ou gestos); -Compor
(criar as suas próprias frases e re-
produzi- las); e Registar por escrito
(aprender a ler e a escrever).

Para testar e depois apre-
sentar a minha fundamenta-
ção teórica criei para os meus
alunos do trabalho de campo
uns recursos que batizei de
Audições Interativas. Os alunos
aprendiam primeiro a tocar e
a conhecer o seu instrumento,
baseados apenas nas proprieda-
des do som, e depois de domina-
rem a prática passavam à escrita
e compreensão teórica do que
interpretaram. Esta metodolo-
gia motiva os alunos (ansiosos

por tocar), permite respeitar os
diferentes ritmos de aprendiza-
gem, facilita a execução vocal e/
ou instrumental individual ou
conjunta. Com o tempo traz-
-lhes autonomia e consequen-
temente facilita o professor na

condução de turmas grandes e
heterogéneas; está disponível
em permanência e por fim: serve
de manual interativo da disci-
plina com a grande vantagem de
podermos ouvir e interagir com
ou sem ajuda. Estes recursos têm
mais de 8 milhões de visualiza-
ções, 27 mil subscritores (cerca
de 2000 são professores de todo
o mundo) e está em permanen-·
te atualização. Tem uma outra
vantagem importante. que é a
avaliação ao segundo, refletida
nos milhares de comentári-
os feitos pelos utilizadores do
Canal. Este triângulo amoroso
entre a paixão de ser músico e o
amor verdadeiro pelo ensino é
uma relação saudável (consen-
tida) que quero fortalecer até ao
inflnito .• Jt.

Professor no Agrupamento de Escolas do
Vale da Amoreira, Moita, Setúbal
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