Jornal de Letras, Artes e Ideias

(claudioch) #1

2 · CAMÕES


Camões, I.P. desenvolve


prova de português


com a Ordem dos Médicos


avaliar a capacidade de compreensão
e comunicação no âmbito da relação
médico-doente dos candidatos à pro-
va de seriação de acesso ao futernato
médico, que não realizaram o curso
médico em língua portuguesa. Mas
Miguel Guimarães entende que «há
uma margem de melhoria>>.
A prova não avalia a formalização
de diagnósticos nem os conheci-
mentos teóricos, formais ou técnicos,
incidindo apenas sobre conteúdo
linguístico, nomeadamente sobre a
capacidade de compreensão do doen-
te e de comunicação entre pares.
No dizer do bastonário da OM, na
questão da comunicação entre os mé-
dicos, os doentes e outros profissionais
de saúde «é fundamental dominar a
língua portuguesa>>, para que a comu-
nicação seja <<eficaz>>_
Nesse sentido, a OM considerou
que «era wgente ter o 'chapéu', a
cobertura e o selo de garantia e a

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qualidade de uma instituição como


  • o Camões, LP.>>, reconhecida a nivel

  • ~ nacional e internacional, na qual
    j deposita «toda a confiança>>, «e que


fi Avaliar as competências em línglia
portuguesa de médicos estrangeiros
que se propõem aceder em Portugal
ao internato médico ou trabalhar no
pais, e não realizaram o curso de me-
dicina em português, é o objetivo da
nova 'prova de comunicação médica'
que vai ser desenvolvida conjunta-
mente pela Ordem dos Médicos (OM)
e pelo Camões, LP. nos termos de um

l

~ dá a garantia>> de que a avaliação na
· ~ área da comunicação, «no falar e
escrever português>>, dos candidatos a

protocolo de colaboração assinado
em üsboa, a 4 de junho passado, _
entre o bastonário da OM, Miguel
Guimarães, e o presidente do Camões,
LP, Luis Faro Ramos, na presença das
secretárias de Estado da Saúde, Raquel
Duarte, e dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação, Teresa Ribeiro.
A OM já aplicava uma 'prova
de c omunicação médica', visando

exercerem medicina em Portugal, que
não tenham feito a sua formação toda
em português, nomeadamente numa
escola médica, ou não tenham feito •
a sua escolaridade até ao 122 ano em
português, «é justa, séria e efica:?:>>.
O bastonário espera assim que
a nova prova contribua para uma
melhoria da comunicação, até porque
a OM, reconheceu, «tem recebido
algumas queixas>> sobre alguns mé-

Residência Literária em· Lisboa


Amosse Mucavele, um poeta moç~bicano


às voltas com o afeto e o abandono


fi Olhar üsboa a partir da ideia de
vestigios do silêncio e de ruínas,
numa «justaposição de tempos e de
histórias>>, foi o projeto que trouxe o
jornalista cultural e poeta moçambi-
cano Amosse Mucavele (Maputo, 1987)
a üsboa, onde passou todo o mês de
Maio, no âmbito de um programa de
residência na área da literatura para
autores moçambicanos, ao abrigo de
um protocolo de cooperação entre a
Câmara Municipal de üsboa (CML) e
o Camões, LP, através do seu Centro
Cultural Português ( CCP) em Maputo.
Explicou ele - num balanço, a 30
de maio na Feira do Uvro de üsboa,
em conversa com Marta Lança, atual
editora da plataforma BUALA, um
portal multidisciplinar de reflexão,
crítica e documentação das culturas
africanas contemporâneas em língua
portuguesa - que o projeto de escrever
um livro sobre os vestígios do silêncio
e sobre ruínas «foi na verdade uma
válvula de escape para recuperar duas
temáticas>> que o «perseguem>>, a
saber, «O afeto e o abandono>>.
Coordenador de A Arqueologia

da Palavra e a Anatomia da Ungua -
Antologia Poética (Revista Uteratas,
2013) e autor de Geografia do Olhar:
Ensaio Fotográfico Sobre a Cidade,
publicado em 2016 em Córdoba, na
Argentina, onde foi premiado como
Uvro do Ano do Festival Internacional
de Poesia daquela cidade, no mes-
mo ano no Brasil e só em 2017 em
Maputo, pela 'Cavalo do Mar', Amosse
Mucavele parece considerar que, con-
soante as subjetividades geradas por
tempos e circunstâncias diferentes, os
mesmos lugares produzem afetos di-
ferentes ... «O que eu discuto são estes
múltiplos olhares sobre este espaço,
o passado, as memórias, o presente e
o ressignificar esse passado de novo.
E depois, começar a verificar o futuro
daquele lugar ... >>, diz.
«O que vou fazer no livro é falar
desses lugares todos, mas não de uma
forma objetiva>>, como se de um livro
de história se tratasse. No projeto de
Mucavele está assim, por exemplo,
segundo anunciou, escrever «um poe-
ma comparado, um monólogo>> sobre
o Museu do Aljube [antiga cadeia em

üsboa, que teve presos políticos entre
1928 e 1965 ,] e a Casa Algarve [Vila
Algarve, antiga sede da PIDE/DGS em
Lourenço Marques, atual Maputo], por
onde passaram como presos políticos
«muitos intelectuais moçambicanos
no tempo da colonização>>. No en-
tanto, garante, não quer que a poesia
seja política, mas sim uma procura das
«nuances desses lugares perdidos ... >>.
A discussão da 'ressignificação' dos ·
espaços no seu livro visa, em última
instância, «a ressignificação das
pátrias, das nossas vilas portuguesas.
Donde é que nós viemos? Porque se eu
venho a üsboa, procuro esses lugares
que conservam a história e tudo o mais
e vou a Maputo também. Resumindo,
estarei a ressignificar a própria origem,
a própria cultura, o próprio legado da
língua portuguesa. Como é que esta
língua se desvanece, se desdobra para
chegar até Moçambique. Como é que
essas construções foram idealiza-.-
das -metaforicamente, na verdade


  • e como é que agora nós podemos
    reconstruir esses espaços todos pela
    via poética.>>


jornaldeletras.pt • 19 de junho a 2 de julho de 2019 / JL


dicos estrangeiros que trabalham em
Portugal. «Às vezes a população tem
alguma dificuldade em comunicar
com eles>>, disse
Segundo dados oficiais da OM
fornecidos à agência Lusa, são feitas
em média, anualmente, 150 provas de
comunicação e há atualmente mais de
quatro mil médicos de nacionalidade
estrangeira registados na Ordem.
Miguel Guimarães lembrou tam-
bém que tem considerado «absolu-
tamente essencial>> a valorização da
língua portuguesa.
A prova será desenvolvida seguin-
do uma metodologia de produção que
tem por referência o manual de qua-
!idade ALTE (Association of Language
Testers in Europe), de que o Camões,
LP. é membro afiliado. Será disponibi-
lizada a partir de novembro de 2019.
Embora o protocolo preveja a
colaboração entre o Camões, LP. e a
OM «no âmbito da conceptualização,
desenvolvimento e apoio à opera-
cionalização de uma nova prova de
comunicação médica>>, a aplicação da
prova, nomeadamente as inscrições, o
pagamento de propinas dos candi-
datos e a disponibilização dos locais
para a sua realização, decorrerá sob a
responsabilidade da OM.
A nova prova de comunicação
médica comprovará as competências
específicas de comunicação médica
em língua portuguesa de candida-
tos de nacionalidade estrangeira,
que fizeram a sua formação médica
em língua estrangeira, ancorada no
nivel B2 do Quadro Europeu Comum
de Referência para as Unguas, em
alinhamento com as melhoras práticas

USBOA
Sobre a sua experiência em üsboa,
onde estivera anteriormente 4 ou 5
vezes em hotéis e agora num aparta-
mento, Mucavele diz que pela primeira
vez pôde «ler as gentes, estudar as
gentes>> e conviver e viver entre as
pessoas. «Desta vez estive em·üsboa,
porque dissipei muitas dúvidas que
tinha sobre esta cidade. Conheci os
vários lados de üsboa e os vários
pensamentos que se envolvem dentrq
desta cidade>>_ Percebeu «uma frieza>>
e falta de alegria nas pessoas, mas a
cidade, disse «é muito alegre>> e «aco-
lhedora>> -«as ruas, a calçada é a coisa
mais alegre deste pais>>. Come-se bem
e, «Com o passe de 40 euros>> circula-


  • se por todo o lado. Ironicamente,


europeias para este tipo de provas para
fins específicos.
No nivel B2, o candidato tem de ser
«capaz de compreender o conteú-
do essencial de assuntos concretos
ou abstratos num texto complexo,
incluindo uma discussão técnica na
sua especialidade>>; «comunicar com
uma grande espontaneidade que per-
mita uma conversa com um falante
nativo, não se detetando tensão em
nenhum dos falantes>>; e «exprimir-


  • se de forma clara e pormenorizada
    sobre uma vasta gama de assuntos,
    emitir uma opinião sobre uma questão
    atual e discutir sobre as vantagens e as
    desvantagens de diferentes argumen-
    tos.>>
    Assim, a prova abrangerá as várias
    áreas de comunicação expectáveis no
    desempenho profissional de um mé-
    dico, incidindo sobre as competên-
    cias de leitura/ compreensão escrita
    (enunciados médicos), compreensão
    oral (enunciados de pacientes ou
    colegas, histórias clínicas), escrita
    (anamnese ou enunciados de orienta-
    ções ou tratamentos) e expressão oral
    (interação com pacientes ou colegas,
    exposição de opiniões). ·
    A prova será realizada em suporte
    digit;U, na plataforma de e-assess-
    ment do Camões, LP., com exceção da
    parte de expressão oral, realizada pe-
    rante um júri, que supervisiona toda a
    prova. Esta opção facilitará a aplicação
    uniforme da prova pela OM; em vários
    pontos do pais. O júri da prova passará
    a incluir um elemento habilitado para
    apreciação do desempenho linguís-
    tico dos candidatos, da Direção de
    Serviços da Ungua do Camões, LP.


manifestou -se 'preocupado' por não
ter conseguido «Cumprir>> com tudo
aquilo que queria ver e ouvir na mú-
sica, no teatro e na literatura, porque
«üsboa tem muitos eventos>> e isto
«cansa e incomoda>>. Queria dividir-


  • se, mas não conseguiu ... Não deixou
    no entanto de pôr reservas às «capeli-
    nhas>> que notou existirem em certos
    meios literários. Os lançamentos de
    livros parecem uma coisa «religiosa>>,
    em que as pessoas se auto-excluem
    pelas suas afinidades, enquanto «em
    Moçambique são festa>>.
    A visita aos museus em üsboa, que
    disse serem muito diferentes dos do
    seu pais, levou- o a fazer uma reflexão
    sobre a questão da devolução do pa -
    trimónio de origem africana existente

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